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  • Foto do escritormelody erlea

a era nickelodeon da animação


a vida moderníssima de rocko



algumas coisas não mudam nunca, diz rocko no começo do especial netflix que traz de volta rocko's modern life, desenho da nickelodeon dos anos 90. ele tá com seus dois melhores amigos na sala de casa assistindo ao seu programa de tv favorito (em vhs) enquanto a casa viaja em alta velocidade pelo espaço.


eles tão no espaço desde 1996, ano do último episódio da última temporada do desenho original - que acaba com os amigos justamente sendo enviados para os céus porque um foguete atravessou sua casa. de repente eles encontram o controle remoto do foguete preso na bunda do vacão, um dos miguxos.


após 20 anos, realmente, algumas coisas não mudam: a canção de abertura cantada pelos b-52s, a estética bem noventista de animação, com olhos que esbugalham, muita informação em tela, cores mil, assim como o humor levemente adulto, irônico, sexual e por vezes violento (quase ren&stimpy, lembram?). mas pra rocko, a vida moderna que ele conhecia tá bemmmm distante. em um mundo de O-phones (o smartphone da conglom-O, empresa que comanda a cidade) e foodtrucks de tacos gourmetizados, rocko tá perdidaço quando até seu antigo emprego, numa loja de quadrinhos, foi substituído por uma impressora 3d de HQs.


lá em 93, joe murray, criador de rocko, só topou fazer um piloto do desenho pra receber uma grana e poder investir num filme independente que queria dirigir. ele fez um treco que tinha certeza que a nickelodeon ia rejeitar mas o negócio foi aprovado e durou 4 temporadas.


conhecido por seu humor ambíguo que visava atrair crianças, adolescentes e adultos, rocko trazia algumas piadas de conteúdo polêmico, como o episódio que vacão se apaixona por uma máquinha ordenhadora e a ocasião em que rocko faz um freela no tele-sex (ele fica ao telefone repetindo oh baby oh baby oh baby)



a versão millennial de rocko, de 2019, tem personagem trans ("eu tenho uma filha? que maravilha, tenho uns sapatos que iam ficar lindos!!!" diz sra. cabeção ao encontrar rachel, sua filha, que desapareceu anos atrás quando ainda era um rapaz chamado ralphie), tem piada sobre starbucks, tem youtuber e tem um cutucão bem dado a todo mundo que tá achando difícil lidar com as mudanças que os anos 2000 trouxeram.


o netflix adiciona ao mix uma visão sarcástica da nostalgia 90s e uma caralhada de piada metalinguistica sobre trazer de volta uma série dos anos 90 pra ganhar grana, risos.


uma curiosidade: depois que rocko acabou em 96 a equipe inteira foi produzir bob esponja (que foi criado e é dublado em inglês pelo mesmo dublador de rocko, ó que da hora!). basicamente significa que nenhum deles precisava ressuscitar um desenho véio por causa de dinheiro, mas a piada é engraçada mesmo assim.


a era nickelodeon da animação


os desenhos hanna barbera eram chamados pelos críticos de "rádio ilustrado" - eram muito simples de desenhar e animar e muito baratos pra produzir, e por isso nos anos 70 a hanna barbera virou dona das manhãs de sábado na tv.


aos poucos, estúdios começaram a investir em especiais, episódios de desenho mais longos que passavam em horário nobre - e tinham que agradar as crianças mas também os pais. nos anos 80, com a linguagem de vídeo clip da mtv tão em voga, a animação que conhecemos hoje - com roteiros que agradam a crianças e adultos, cortes rápidos, bastante movimento e cor - começou a surgir. sim, a mtv influenciou a maneira como assistimos desenho animado. era o fim da era hanna barbera.


nos anos 90 as emissoras de tv a cabo focadas em público infantil tavam comprando todo tipo de projeto inovador de animação, e foi assim que surgiram os nicktoons, na nickelodeon, e os cartoon cartoons, do cartoon network. que fase ótima pra desenho, cês lembram?


rocko's modern life nasceu aí, no berço dos nicktoons numa época em que criadores de desenho eram incentivados a fazer o que quisessem. joe murray, criador de rocko, diz que eles tomaram riscos que dificilmente seriam aceitos nos tempos atuais - mas isso não o impediu de tentar.


histórias reais em desenho animado



acho que uma das coisas mais inovadoras nos desenhos da nickelodeon dos anos 90 eram as famílias dos personagens. a maioria das histórias focava em grupos de crianças, e seus pais e familiares sempre estavam no background, como atuantes secundários do desenrolar do roteiro. o fato de elas serem secundárias não as deixava menos realistas e peculiares.


qué dizê, o cartoon network também tinha desenhos de famílias disfuncionais, mas elas sempre eram absurdas. os pais da vaca e do frango eram humanos que acabavam na cintura, não tinha parte de cima (desculpa aê o spoiler pra quem não sabia mas quais eram as chances de você decidir pegar a vaca e o frango pra assistir em ordem do começo ao fim e descobrir sozinho? poucas, acho), as meninas super poderosas foram criadas em laboratório, aí tinha johnny bravo, o solteirão, e os pais do dexter, que eram o casal de propaganda de margarina lobotomizados.


na nickelodeon era diferente. já falei do rocko, que fazia freela no tele-sex (gente como a gente), mas pensa:



em rugrats, a mãe do tommy é professora e sustenta a casa e o marido é inventor que não consegue comercializar suas ideias. angélica, prima de tommy, tem uma mãe empresária de sucesso e um pai dono-de-casa. chuck é filho de um pai solteiro e os gêmeos phil e lil tem uma mãe feminista, esportista e opinionada e um pai sensível, quieto e que lida com as tarefas domésticas.


em hey arnold, helga tinha uma mãe alcoólatra e um pai ausente e harold, o bully, vivia apenas com a mãe, que nunca parece lembrar de comprar comida pra alimentar o filho. arnold, o protagonista, mora com os avós porque seus pais o abandonaram ainda bebê. e aí tem a rhonda, a riquinha da turma, que tem tudo que o dinheiro pode comprar menos pais presentes.


tudo isso tava ali, normalizando prum monte de criança dos anos 90 as diferentes relações familiares. mostrando, acima de tudo, que aquelas famílias não representavam tudo que aquelas crianças eram.


tanto em rugrats quanto em arnold, suas situações familiares não os definem - e sim suas respostas a conflitos e as relações que eles estabelecem com todo mundo naquela comunidade. basicamente, esses desenhos tavam mandando uma mensagem pras crianças assistindo que era: sua família não resume quem você é. e vocô não está sozinho.


pô, que lindo :~

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