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  • Foto do escritormelody erlea

já ouviu falar da VERDADEIRA HISTÓRIA DO CHAPELEIRO MALUCO?



da onde é que lewis caroll tirou esse personagem tão peculiar?


pois pega essa: desde o início do séc XVIII a moda masculina das classes médias e altas ficou mais e mais particular em suas demandas e detalhes - o homem padrão da época te diria, como costuma dizer também hoje em dia, que os males causados pela moda eram responsabilidade tipicamente feminina, mas a verdade é que as exigências de vestuário pra aparição pública eram tão complicadam para os homens quanto para as mulheres.



Chromolitografia de máquina que transforma coelhos em chapéus, ca.1900. Musée du Chapeau

o chapéu era item essencial de um look masculino de respeito, e quanto mais brilhosa a cartola mais respeitoso o homem embaixo dela. as cartolas eram feitas tipicamente de pele - qualquer animal servia porque a pele passava por um processo de feltragem, mas por sua abundância, chapéus de lebre e coelho eram os mais comuns; se fabricavam aos montes e o preço de venda era mais razoável do que a alternativa: os chapéus de castor, raros e caros (já que o castor foi extindo na europa por causa dessa tendência).


a pele do castor tem uma característica específica que permite a feltragem sem uso de químicos fortes, e fica melhor quanto mais suja e oleosa - então antes de virar feltro ela era usada como casaco, luvas e até sapatos, pra pegar bastante graxa humana e se tornar resistente o suficiente pra virar chapéu. o processo demora, e quanto mais raro o bicho ficou, mais caro o produto final.


Jean-Antoine Berger, chapeleiros feltrando, 1904

já os coelhos e lebres eram mais fáceis de encontrar e criar pra reprodução, mas tem peles mais difíceis de feltrar. originalmente, para alcançar a textura desejada, o processo artesanal era feito com urina - é isso mesmo, os chapeleiros feltradores tratavam a pele com seu próprio xixi.


não se sabe exatamente como isso mudou, mas pouco a pouco as chapelarias francesas passaram a usar uma "solução secreta" para feltragem dos chapéus, que continha altas quantidades de mercúrio. no início do século XIX o uso de mercúrio já era praxe - mesmo com tentativas de médicos e trabalhadores de fábricas de chapéu de proibir o uso da substância na frança e na inglaterra desde meados de 1720.

o uso do mercúrio tinha efeitos devastadores na saúde dos chapeleiros - não apenas físicos, como neurológicos. envenenamento por mercúrio causava problemas de pele, queda dos dentes, inflamação das gengivas e língua, e sintomas de depressão, ansiedade, altas taxas de suícidio e problemas como tremores no corpo e perda de coordenação motora. chapeleiros doentes são descritos como tremendo tanto que chegam a perder os sapatos - e é justamente assim, sem os sapatos, que sir john tenniel ilustrou o chapeleiro maluco de lewis caroll em 1865, nas edições originais do livro.


para a feltragem as peles, os chapeleiros ficavam em salas fechadas, sem ventilação (para que as finas peles nãos e espalhassem com o vento), absorvendo o mercúrio através das mãos, pele e pulmão, porque respiravam os vapores do mercúrios fervendo.

assinatura de chapeleiro com envenamento por mercúrio

embora diversos médicos tenham testemunhado, registrado e publicado trabalhos sobre os malefícios do mercúrio nesses trabalhadores durante mais de 2 séculos, suas conclusões eram silenciadas na mídia e manipuladas pelos grandes donos de marcas de chapéu, e nunca alcançaram grande público.


o uso de mercúrio segui permitido na inglaterra até meados dos anos 1960, e seu uso ainda era comum até os anos 40. o que tornou o uso de mercúrio obsoleto foi a implementação de uma técnica que deixava seda com a mesma textura e aparência da pele de lebre feltrada, processo mais simples, menos sanguinário e menos nocivo aos chapeleiros. pouco a pouco a seda virou o material preferido, por permitir fazer chapéus mais leves e mais frescos.


a expressão "mad as a hatter" (louco como um chapeleiro) se tornou popular no século XIX, assim como "mad as a march hare" (louco como uma lebre de março), que fazia referência ao fuzuê sexual das lebres em período fértil na primavera. muitos dizem que essa é a referêcia usada por caroll pra criar a personagem da lebre maluca, companheira de desaniversário do chapeleiro, mas eu tenho outra teoria: o chapeleiro tá maluco por causa do mercúrio em seu chapéu, e a coitada da lebre tá maluca de saber que seu destino é virar o próximo chapéu do chapeleiro.

chapéu tóxico, Victoria and Albert Museum

qq 6 acham?


pra saber mais sobre essa história (e outras tendência assassinas do passado), o livro "fashion victims - the dangers of dress past and present", da alison matthews david, é uma delícia! foi de lá que tirei todas as informações e imagens desse post (menos a foto da chapelaria de esperáza, que peguei do site deles).

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