melody erlea
ainda pensando nesse tal de minimalismo
eu não sei, honestamente, se posso sequer dizer que estou vivendo de maneira minimalista. eu ainda desperdiço muito, crio muito lixo, como mal, e continuo tendo mais roupas do que eu realmente preciso, mesmo com a mega edição que tem rolado desde o começo do ano.
a verdade é que, como uma mulher que gosta de moda, que gosta de roupas, que gosta de pensar no vestir, que gosta de tentar comunicar algo através das minhas roupas (embora eu ainda não saiba exatamente o que é que eu tô tentando comunicar nem se a mensagem tá chegando do outro lado com clareza), eu sempre vou ter mais roupas do que o necessário. acho, sinceramente, que até as pessoas que supostamente não se importam com roupa (já falei disso nesse texto) possuem muito mais roupas do que necessitam. vamos falar honestamente aqui: se a gente for pensar na necessidade real, a gente precisa de duas trocas de roupa - uma pra usar enquanto a outra lava. e fim. se alguém que estiver me lendo por aí estiver vivendo atualmente com apenas duas trocas de roupa e puder me contar um pouquinho sobre a experiência de viver realmente só com as roupas que precisa, adoraria saber, adoraria ouvir as impressões, os efeitos que isso tem em outras partes da vida, etc.
mas a "necessidade real" é meio blurry quando a gente pensa na vida em sociedade e nas regras que a gente, conscientemente ou não, segue pra poder viver nessa tal de sociedade. necessidade real não é nada quando a gente para pra pensar que, socialmente, cada um de nós tem necessidades diferentes: tem gente que usa carro e gente que usa transporte público, tem mulher que precisa de salto pra trabalhar e tem mulher que trabalha de tênis, tem gente que trabalha de casa e tem gente que vai pro escritório todo dia, todas essas diferenças moldam nosso estilo de vida e nossas necessidades sociais (que são bem diferentes das nossas necessidades reais de seres vivos).
uma amiga querida me mandou um texto que caroline martins, participante do masterchef brasil, postou em seu facebook respondendo aos diversos comentários no twitter sobre ela usar sempre a mesma roupa. o texto é muito legal, sobre as motivações dela pra ter menos roupas e as consequências positivas que isso teve em sua vida, inclusive e especialmente a tranquilidade nascida do ter menos coisas e se preocupar menos com aparências e status que tentamos manter através de coisas, roupas, carros, porrinhas eletrônicas, e etc.
(clique na imagem para aumentar)
o texto dela também serve pra gente pensar sobre nossas necessidades pessoais e comparar com a maneira que "vestimos nossa vida". as coisas e roupas que eu possuo são para mim ou são para que o mundo ao meu redor pense em mim como uma pessoa de sucesso, com grana, antenada e atualizada? esse sucesso que estou tentando retratar representa mesmo o que eu considero como sucesso? eu tenho o que preciso? eu gosto do que tenho? eu possuo roupas ou coisas pra me validar aos olhos de outras pessoas?
todas essas perguntas me ajudam a medir o quanto do que eu faço e possuo é pra mim e por mim e o quanto é pra estar nivelada com uma ideia de bem estar alheia, uma ideia inventada pra deixar a gente no ciclo do consumo, da dívida, do gastar e do ter sempre mais coisas e coisas mais novas. um monte de coisas contribui pra isso: a maneira que nossos pais vivem e o que eles esperam de nós, a publicidade que tá fucking everywhere invadindo nosso espaço visual e auditivo, a maneira como dinheiro está em todas as partes de nossas vidas nos fazendo querer ter sempre mais, o conceito de família da sociedade atual e a ideia de que precisamos construir um patrimônio pra que possamos deixar pros nossos filhos...
a caroline martins optou por ter 6 trocas de roupa e 2 pares de sapato, porque ao analisar a vida dela, o trabalho dela, a rotina dela, isso parecia o ideal. não quer dizer que todos nós tenhamos que ter essa quantidade de roupas - o importante é olhar pra si mesmo e pensar: por que eu tenho essas coisas? o que eu realmente uso? por que eu guardo as coisas que não uso?
ter menos, ao contrário do que muitos pensam, não é fazer voto de pobreza e nem se achar superior por não ser materialista: é um exercício profundo de auto-conhecimento, de entender nossas reais necessidades e vontades em contraste com as necessidades e vontades que a sociedade diz que devemos ter.