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  • Foto do escritormelody erlea

controlando impulsos

📷

aconteceu esses dias: tive que ir ao shopping pra passar numa ótica, e aproveitei pra visitar as lojas. de roupas. honestamente as roupas não me atraem mais, especialmente quando falamos de lojas de departamento - dá pra ver a qualidade cada vez pior das coisas, gente, vocês que me desculpem, e os preços cada vez mais abusivos pra produtos que claramente não valem o que a etiqueta diz. porém mesmo com meu olhar furiosamente atencioso e minha nova maneira de encarar roupas e compras, nem eu sou tão de ferro assim.

eu tenho tido uma coisa com meus sapatos - eles estão feios, gastos, velhos e alguns deles simplesmente não combinam mais com o que eu acho bonito. então entrei na c&a apenas pra poder rir daquelas roupas horrorosas, mas achei na área de sapatos umas coisinhas..... bem apropriadas e belas. experimentei vários, pensei em levar dois pares, optei por levar apenas um - só 69,99, gente, depois de 6 meses sem gastar eu tinha esse dinheiro sobrando.

eu precisava desse sapato? necessidade é sempre relativa. é claro que não, claro que eu posso seguir vivendo com os sapatos que tenho até que eles se gastem completamente, mas tem um rolê de ter sapatos em bom estado que eu não consigo superar. sapatos gastos e velhos: coisa de gente xófen, que vai pra facool. molieres adultas e profissionais (e que trabalham com moda) precisam de sapatos que façam jus. então eu meio que precisava deles, sim.

não precisava?

veja bem, gente, euzinha comprei coisas em lojas de roupas pela última vez no fim de 2016, e depois de 6 meses sem comprar roupas, comecei minha volta às compras quando no inverno percebi que não tinha calças - mas no fim do ano minhas compras já não eram apenas por necessidade. é muito fácil se deixar levar, é muito fácil se encantar pelas lojas e vitrines e propagandas.

esse ano.... esse ano o negócio foi diferente. eu não queria só economizar dinheiro, ou só aprender a amar minhas roupas em todo seu potencial, eu queria desassociar minha felicidade do comprar. queria realmente fazer algo em relação ao meu ódio por propaganda, que está em todo lugar o tempo todo, invadindo meu espaço pessoal, me fazendo querer coisas que eu não quero e não preciso.

já falei aqui várias e várias vezes do blog da cait flanders, no qual eu caí sem querer, e que me fez enxergar as coisas de uma maneira diferente. o questionamento que ela se fazia era: por que minha felicidade está atrelada às coisas que eu consumo? por que a gente consome tanta coisa? ela ficou dois anos sem gastar dinheiro com nada que ela considerasse supérfluo - e isso incluiu jantar ou almoçar fora com amigos, sair pra tomar um cafézinho durante o trabalho, e um monte de outras coisas que a gente às vezes nem encara como consumo. mas é isso, ela levava sua garrafa térmica pra trabalhar e todo o café que ela bebia era o trazido de casa - porque ela estava infeliz com a quantidade de dinheiro que gastava com esse pequeno prazer todo dia. ela deixou de comprar canecas fofas, caderninhos, roupas, tudo que não fosse necessário ou que não estivesse na sua lista anual pré-aprovada de compras. foi da cait flanders que eu tirei a ideia de fazer a minha própria lista, mas as coisas nem sempre saem como a gente planeja.

a cait flanders começou sua dieta de consumo após demorar dois anos pra pagar dívidas de compras em excesso, e ela quis fazer isso pra aprender a consumir melhor. o que ela aprendeu no final foi muito maior do que isso, e foi o que me inspirou a começar meu projeto.

é importante lembrar do seguinte: cada um de nós vive do seu jeito e tem suas próprias necessidades e seu próprio ritmo. eu comecei o ano decidida a não comprar coisas físicas, mas uns meses atrás eu e namo já nos comprometemos a comer menos fora (e tem funcionado, mas principalmente porque o namo cozinha bem e gosta de lidar com comida), e meu próximo objetivo é rever minha relação com o consumo de comida - na qual eu ainda gasto muito dinheiro porque compro sem me organizar muito e sem realmente pensar nas minhas necessidades. comida é o meu pequeno luxo, mas é o único que sobrou, e isso acontece em parte porque eu não gosto de cozinhar. não gostar de cozinhar também é um luxo.

a quantidade de roupas que eu (ainda) tenho também é um luxo, e dos meus luxos preferidos. a diferença entre comprar roupa e comprar comida é que a roupa a gente pode usar repetidamente, enquanto comida tem que necessariamente ser reposta uma vez que a gente a engole. e é assim que eu vejo minha nova relação com compras e roupas: minhas roupas ainda são um pequeno luxo, eu ainda tenho mais roupa do que eu realmente preciso, mas é isso, elas já estão lá. as roupas já estão na minha casa, no meu armário, e o mínimo que eu posso fazer é respeitar quem as fez, respeitar o dinheiro que gastei nelas, e usá-las até elas acabarem. a compreensão de que eu não preciso comprar roupas novas porque meu armário está cheio de possibilidades veio junto com essa ideia: a do respeito. por mim mesma, pelo trabalho que eu troquei por dinheiro pra poder comprar o que tenho, e também por quem trabalhou pra produzir as coisas que eu tenho. se eu descarto uma peça de roupa sem usá-la até o fim, eu estou descartando o trabalho duro de muita gente, que ganhou muito menos do que eu gastei.

pensar em tudo isso me ajuda a encontrar mais sentido nisso que decidi fazer, mas não quer dizer que eu me imunizei e não tenho mais desejos nem vontade de comprar nada. comentei recentemente que ganhei 3 pares de sapatos da minha mãe - duas botas e um sapato baixinho. meus sapatos tão em estado deplorável, gente, mas eu não queria comprar pra não trair meu próprio movimento. o ganhar coisas tem se mostrado realmente valioso nesse meu ano sem compras: ganhei um vestido de uma amiga, uma jaqueta de frio de uma cliente de consultoria, sapatos da minha mãe, e vira e mexe amigas me mandam fotos de blusinhas que elas não usam e que acham a minha cara. isso é lindo, sabe? ver que tem gente disposta a trocar, a dar, a passar adiante o que não tem mais uso pra elas. e notar que eu também tô muito mais interessada nisso do que em vender as roupas que não uso.

e eu pensei em tudo isso enquanto aguardava, com uma certa pré-culpa, minha vez de pagar pelos sapatos de 69,99 que eu havia escolhido na c&a e que me pareceram ideais pro meu dia-a-dia. "vou usar muito", pensava a pequena mel. "vou poder aposentar aquele outro que tá todo acabado", eu dizia, tentando me convencer da clareza daquela decisão. a pré-culpa era pelo dinheiro que eu tava prestes a gastar, pelas minhas crenças indo por água abaixo ao comprar em fast-fashion - mas pelo menos o sapato era made in brazil -, pela minha traição a minha própria decisão de não comprar....

na minha frente, uma moça no caixa com problemas de lembrar a senha do cartão. depois problemas pra colocar créditos no celular pra poder ligar pro marido pra pedir a senha do cartão. depois todo um efusivo e longuíssimo pedido de desculpas e "ai que vergonha" e "você pode deixar separado pra mim? só vou pegar a senha do cartão com meu marido". e tudo isso foi rápido pra escrever, mas levou taaaanto teeeeempo pra acontecer. e eu sou, por natureza, uma compradora impulsiva. eu preciso ver e comprar na hora, senão perco a vontade. a quantidade de roupa que já larguei em fila de caixa simplesmente porque não sou obrigada a ficar esperando não é brincadeira. e toda aquela enrolação, toda aquela demora, me fizeram pensar: isso vale setenta reais? esse sapato de má-qualidade, que em breve vai estar tão gasto e feiosinho quanto os sapatos que eu já tenho? essa espera toda, esse tempo todo que tô perdendo, isso vale 70 reais?

eu sou professora, gente, eu ganho por hora, e eu tava plenamente ciente: aquele tempo que eu tava perdendo não valia 70 reais. e se meus sapatos estão gastos é porque eu os uso, e é pra isso que eles servem. se meus sapatos estão gastos significa que eu uso eles BEM e BASTANTE e é esse o papel de um sapato. e eu não acabei de ganhar sapatos da minha mãe pra especificamente poder aposentar um ou outro par que não tá mais podendo viver? quantos sapatos eu vou ter que comprar pra ficar satisfeita, ó senhor jesusinho?

com um profundo suspiro de impaciência larguei o sapato lá, fui pra casa, continuei vivendo minha vida feliz e esqueci do assunto até ver o seguinte vídeo no grupo vida minimalista:

e percebi como melhorei nesse sentido específico: controlar meus impulsos de consumo e desviar do bombardeamento de mensagens me mandando comprar coisas. acho que tô aprendendo, como a cait flanders, a desassociar minha felicidade, minha satisfação e meu contentamento do ato de comprar.

****

falei tudo isso mas queria ser honesta e compartilhar com vocês as coisas que eu comprei e ganhei até agora, desde o início desse blog:

comprei um maiô lá na semana 2;dois pares de meia;brinquedos, roupinha, potinhos de comida e água e caminha pra matilda, a cachorra que adotei na semana 1 ;alguns materiais pra eu usar na escola com meus pequerruchos, em oficinas e workshops que dou e nas aulas em geral: fantochinhos de bicho, confete colorido e papéis pra colagem, forminhas de brigadeiro coloridas, cartolinas, colas, impressões de atividades, etc;anúncios de instagram e facebook pra promover minha página e meu blog.ingressos pra shows 

ganhei

minha irmã me deu um leque;uma amiga me deu um vestido e um crop top que foi da mãe dela, além de apetrechos pra eu fazer brincos;uma amiga e cliente de consultoria me deu jaqueta maravilhosa de inverno (que ela tinha ganhado de uma aluna, que por sua vez a usou muito antes de passar adiante. roupa com história, gente, traz muito mais alegria do que roupa de shopping);minha mãe me deu dois pares de botas e um par de sapatos baixos.(e, claro, não vamos esquecer meus gastos fixos: aluguel, gasolina, supermercado, internet, luz e spotify. não tenho celular pós-pago nem tv a cabo e o namo paga pelo netflix.)

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