melody erlea
DIÁLOGO ENTRE A MODA E A MORTE - um passeio literário com leopardi
chegou a hora de eu exibir meu diploma em letras kkk - pra quem não sabe, é nisso que eu sou formada, e ao contrário do que muitos pensam eu não estudei inglês na facool, e sim língua e literatura italiana.
acho curioso o esforço da academia de letras pra manter afastados os interesses "menos elevados" de seus autores favoritos - oscar wilde dava conselho de moda em revista e panfletava pelo uso de calça por mulheres, goethe escreveu sobre cores e seu efeito nas pessoas (e considerava essa sua maior e melhor obra, nada de jovem werther ou fausto) e leopardi, o maior poeta e filósofo do romantismo italiano (quiçá de todo o romantismo), tem uma de suas mais importantes obras um maravilhoso e totalmente ignorado texto sobre moda e do poder mortífero que exerce em todos nós.
mas tudo isso eu descobri fora da letras, pelos caminhos tortuosos da moda acadêmica, essa área desprezada por tantos mas que segue conectando TUDO que é relevante ao ser humano, de literatura a ciência a política.

em sua coleção de ensaios e ficções "operette morali", escritos entre 1824 e 1832, leopardi oferece reflexões irônicas, amargas, mordazes e filosóficas sobre aspectos da vida humana e suas contradições.
um dos textos, "diálogo entre a moda e a morte", traz uma visão realista - e atual - da moda como escravizadora e opressora das pessoas. a própria moda, personificada, se apresenta para a morte como sua irmã, causadora de sofrimento, doença e tristeza.
a morte não acredita no começo (ela não enxerga nada, nem sabe com quem tá falando, é meio zezé da cuca e fica tipo hãn? quem é você? minha irmã? tá loka?). mas a moda vai mostrando, tintin por tintin, como ela auxília o trabalho da morte aqui na terra.
a moda, como a morte, lucra da mudança incessante e da destruição de tudo. e ela descreve tudo: os corsets que deformam mulheres, as scarificações e mudanças corporais, os pés contidos em sapatos minúsculos, os materiais tóxicos das vestimentas, o sofrimento das costureiras.
ela conclui dizendo que tudo que as pessoas fazem é por ela e do jeito que ela, a moda, quer, independente do quanto sofram.
de 1826 pra 2021, cês acham que mudou muita coisa? eu tô sentindo que não.
aqui tem uma versão em inglês do diálogo entre a moda e a morte!
(uns tempos atrás saí com um cara que era professor de filosofia, e tive um embate caloroso - pra não dizer briga - porque ele disse "não se interessar por moda", e deu por isso razão o suficiente pra se recusar a ler qualquer coisa sobre o assunto. sempre acho tão absurdo esse desprezo que homens tem por moda, e tive que perguntar pro cara: cê jura? esse é seu posicionamento como FILÓSOFO? taí leopardi pra mostrar que até um cara do séc XIX é mais mente aberta do que os boy marromeno atuais)