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Help - a coletânea para acabar com as coletâneas

Quando eu era mais novo, eu assistia a canais tv que passavam clipes,ouvia e gravava em fitas cassetes programas de rádio e de tv, principalmente da MTV e Brasil 2000, os canais mais fáceis de ouvir música alternativa, indie e rocks variados. Também ia nas lojas de cds e fazia amizade com os vendedores pra poder ouvir os cds e lps, ia em sebos; às vezes levava um cd, vinil ou livro pra trocar por outros, ou pra vender e colar numa baladinha na qual, eu sabia, tocariam musicas fodas que não conseguia ouvir tanto no rádio e na tv.


Era a época do Strokes, White Stripes, Belle and Sebastian, e todo esse povo indie que em São Paulo ainda tava rolando bem legalzinho, com bons lugares pra colar e dar uma balançada no esqueleto jovem e cheio de energia. Eu lembro de encontrar o disco Help, da War Child, em algum sebo, na Augusta, se pá. Eu gostava de comprar coletâneas de cds de revistas porque era o meio mais prático de eu ouvir o sons que eu estava me identificando pra valer com 17 anos.

Essa da War Child é daquelas coletâneas cobiçadas, com canções e versões inéditas de artistas icônicos do britpop como Oasis e Radiohead, lançada na Inglaterra há exatos 25 anos - em 9 de setembro de 1995. A organização por trás do disco - feito para arrecadar fundos para crianças vítimas da guerra da Bósnia - era a até então desconhecida War Child, uma ong beneficente criada por dois produtores ingleses, Bill Leeson e David Wilson, após voltarem das experiências da guerra na Iugoslávia. A ong ficou famosa ao longo dos anos fazendo shows e outras benfeitorias pelo mundo, com grana de celebridades bem ricas. Pensa David Bowie, Brian Eno, Lionel Richie, Luciano Pavarotti... Essa galera que nos anos 90 tava vivendo a boa vida.


Esse álbum foi produzido igual pastel, rapidinho e de monte, mas não é aquele pastel de vento. É um puta pastel recheado de sabores incríveis e inéditos. O disco foi gravado numa segunda-feira, na terça foi mixado e masterizado por Brian Eno, e no sábado foi lançado nas lojas, sem tracklist anexada no encarte - a lista de músicas foi impressa num anúncio de página inteira na NME.


Pra quem gosta de encontros musicais peculiares, o disco já começa com o Oasis fazendo uma versão alternativa de Fade Away, com o Johnny Depp na guitarra e a Kate Moss no tamborim - e também no backing vocal com o Liam (na versão original, o Liam é a voz principal). Pra mim, é a melhor versão dessa música.


Stone Roses gravou uma versão exclusiva de Love Spreads, e o guitarrista da banda, John Squire, fez a arte da capa do disco - como costumava fazer com os discos do próprio Stone Roses.


Tem o retorno do Manic Street Preachers, fazendo um cover muito bonitinho de Raindrops Keep Falling on My Head, do Burt Bacharach. Tem o Radiohead adiantando uma faixa do seu futuro disco OK Computer, com a poderosa Lucky. O Portishead também adiantou a sofrida Mourning Air, que só foi lançada em 97 no incrível álbum de mesmo nome.

Tem o encontro do Chemical Brothers com os Charlatans com a dançante Time for Living’, o Massive Attack fazendo uma versão para sua canção Karmacoma, de 1994, e o Suede, maravilhoso, com um cover de Shipbuilding, do Elvis Costello.


Sinéad O'Connor gravou uma versão foda da clássica Ode to Billy Joe, que é a cara dela, e o disco fecha com uma versão de Come Together, interpretada pela banda Smokin ‘Mojo Filters - nada mais nada menos que Paul McCartney, Paul Weller e Noel Gallagher acompanhados de Steve Cradock, Steve White e Carleen Anderson. Foda, vai.


A instituição War Child se envolveu em um escândalo no começo dos anos 2000, quando seu fundador Bill Leeson foi acusado por David Wilson, ex-sócio e também fundador da ong, de receber propina de empreiteiros durante a construção de um centro musical (nomeado em homenagem a Luciano Pavarotti, um dos investidores da organização), em Mostar, Bósnia, em 1996. Davis Wilson tem desde então tentado se fazer ouvir, mas após expor seu ex-parceiro foi demitido da empresa e silenciado.


Tanto Pavarotti quando Brian Eno se afastaram dos projetos musicais da organização após o ocorrido, mas, de acordo com Wilson, a War Child segue contratando a mesma empresa de empreiteiros dos quais recebem propina.


Pelo menos nos resta a parte boa do negócio: depois do Help, a War Child seguiu lançando coletâneas beneficentes como essa, as quais vale a pena ir atrás, e esse ano, para celebrar os 25 anos do Help, o disco será relançado numa edição especial em dois vinis e estará, finalmente, disponível na redes de streaming.


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sobre o autor:

foto: yllan carvalho

Will é artista visual, tendo como maior inspiração a rua e o fotojornalismo, tendo um trabalho autoral focado nesse tema, além de dedica-se desde 2012 à fotografia de registro para artistas independentes e espaços culturais em São Paulo. Toca baixo, guitarra e stylophone.






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