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  • Foto do escritormelody erlea

minimalismo colorido


me perguntaram esses dias se dá pra ser minimalista sem seguir aquela estética escandinava ou industrial.


pohannn, ô se dá! minimalismo pode ser interpretado a partir de uma certa estética, claro, principalmente de design (alô, @ricardonucci, ajuda a gente com essa parte!), mas é também, principalmente hoje em dia, uma escolha de como viver com escolhas melhores.


não é sobre se vestir só de preto e branco num armário cápsula de 30 peças (quem inventou esse número aleatório?), nem sobre só ter uma mesa, uma cadeira e uma cama em casa, nem sobre ter itens materiais que caibam todos em uma mala de viagem.


afinal de contas, a maior parte de nós não é nômade e não precisa enfiar todos os nossos pertences numa mala.


pra mim, desde que eu decidi aplicar certos conceitos (veja bem: *certos* conceitos, o que eu avaliei que servia pra mim, não o pacote completo que parece ser necessário adquirir) do minimalismo na minha vida, tem sido sobre diminuir o ruído das publicidades e mensagens diárias me convencendo a comprar comprar comprar.


minimalismo foi o caminho que eu encontrei pra pesar as minhas necessidades e os meus desejos contra as necessidades e desejos que me eram alimentados por fontes externas.


eu era a típica consumista de classe média, assídua frequentadora de fast fashion, acumuladora de tranqueiras de papelaria e da daiso, colecionadora ávida de livros, eternamente insatisfeita com minha quantidade exagerada de roupas e com aquele bom e velho clichê de sempre achar que não tinha nada pra vestir.


por quê? por que essa vontade constante de comprar, de ter um look novo, de acumular coisas e roupas sem conseguir usá-las? por que essa necessidade constante de consumir roupas pra tentar me sentir cool, gata, estilosa, sempre sem sucesso, sempre falhando?


tinha que ter algo errado. e aí, meio sem querer, eu descobri essas pessoas que falavam sobre não-consumir. sobre ter um período de avaliação de necessidades, desejos e supérfluos pra decidir o que continuar consumindo. sobre parar de gastar dinheiro desnecessariamente, sem se dar conta.


também esbarrei nas notícias, textos e histórias relacionados à busca por uma moda mais sustentável. aprendi sobre a origem das roupas de fast fashion que eu comprava e sobre o problema gigantesco que a indústria da moda criou.


nas minhas andanças por me entender melhor, minimalismo e sustentabilidade na moda estavam inevitavelmente marrados - roupa era o meu maior vício (ainda é), o meu maior descontrole financeiro, era algo com o qual eu precisava aprender a lidar. e foi a partir da ideia de não consumir que eu consegui, finalmente, compreender porque eu gostava tanto de roupa, como eu queria construir meu estilo, a razão de eu comprar tanta roupa e não usar.


e eu nunca precisei me vestir só de preto e branco em modelagens retas e simples pra conseguir. minimalismo foi, na minha vida, menos um valor estético e mais um valor social.


meu consumo interfere demais no que acontece ao redor do mundo, gastar dinheiro é também uma afirmação política, e foi o minimalismo que me mostrou isso.


e sozinha eu aprendi que dá pra ser minimalista do nosso jeitinho - tem gente que vive com três calças e 5 camisas, eu gosto de ter um acervo vintage e especial que me represente. tem gente que vive com uma poltrona e uma cadeira em cores neutras, eu tenho móveis coloridos e quadros na parede. todas opções são ok, desde que a escolha seja feita conscientemente.


minimalismo é sobre olhar pra dentro e tentar se entender, pegando num ponto muito sensível nosso que é o consumo. parar pra se perguntar "por que eu consumo o que consumo, com a frequencia que consumo, do jeito que consumo?" às vezes revela que muita da nossa segurança social, do nosso escudo, está no nosso poder de consumo.


e é isso que consumo é: poder. a gente tem a ilusão de que poder consumir a torto e a direito nos dá mais poder, mas é o contrário - isso dá poder pra quem tá te vendendo, absorvendo seu dinheiro, enriquecendo. realmente questionar nossos hábitos de consumo, repensar a maneira com a qual gastamos nosso dinheiro, entender que a publicidade tá em todos os lugares (inclusive na blogueirinha de looks que você ama) nos manipulando e nos convencendo a comprar e ter coisas que não nos adicionam nada.


dizer não a isso é poder. burlar a dinâmica de produção e consumo é poder. consumir de segunda mão é poder. é um tipo de liberdade - estar livre do ruído me mandando comprar. estar livre das tendências me fazendo acreditar que elas são necessárias na minha vida.


minimalismo é sobre tentar ser cada vez mais livre pra fazer as próprias escolhas, e não as escolhas que os outros esperam.


dá pra fazer isso vestindo todas as cores e estampas do mundo. ou só de jeans e camiseta branca. a escolha é sua.


(linkei nesse texto vários dos posts que escrevi quando iniciei essa jornada, pra quem quer saber como foi pra mim e o que é ter um estilo de vista mais minimalista)


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