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  • Foto do escritormelody erlea

o dia que futebol e moda se uniram



o ano era 1998 e a copa do mundo tava prestes a ter seu jogo final: brasil e frança disputariam o título mundial no stade de france, e a gente já sabe o resultado, não muito feliz pra nós do país kaos brasilis.


a selecão francesa foi a 6a ganhar a copa em seu próprio país, e essa não foi a única celebração da frança naquele ano: a grife yves saint laurent comemorava 40 anos de existência e, sendo um símbolo da história da moda francesa, não foi esquecida nem na copa.



15 minutos antes do jogo final, numa deslumbrante cerimônia de encerramento, 300 looks da grife foram desfiladas em campo, divididas em 6 temas que incluíam pop-art, clássicos, o oriente e as artes, numa passarela estampada de céu! alguns dos momentos mais icônicos da YSL estavam presentes nesse desfile, como o vestido inspirado por mondrian de 1965, o busto dourado de 1969, o vestido preto de festa com o mega laço cor-de-rosa de 1983, e a jaqueta inspirada pelos girassóis de van gogh, que levou 600 horas para ser bordada.



o evento celebrava não apenas o final da copa na frança, mas também o trabalho da vida inteira de saint laurent, que anunciava que a partir do ano seguinte deixaria a produção ready-to-wear nas mãos de outro estilista, alber elbaz.


o desfile foi es-pe-ta-cu-lar! mais de 5 mil pessoas trabalharam no backstage, e esse foi um dos primeiros momentos na história em que a alta costura e o mundo da moda saíram de seu nicho e de sua relativa inacessibilidade e atingiram um público de 80 mil pessoas no estádio e mais de um bilhão de telespectadores ao redor do mundo. foi um momento pra aproximar a moda de toda a população mundial - numa época em que desfiles e coleções de marcas não eram tão facilmente publicados e compartilhados em redes sociais e os eventos de semana de moda eram altamente exclusivos. pela primeira vez, um desfile de alta costura era exibido na tv, ao vivo, trazendo a moda para um patamar de espetáculo similar ao do futebol, em que os espectadores e o estádio são parte integral do show, e não apenas audiência passiva.


dessa maneira, uma expressão cultural tipicamente francesa, a moda, tinha a oportunidade de criar uma conexão com a população francesa (e do mundo) similar a que as pessoas estabelecem com o futebol: de se sentir parte daquele ritual, daquele trabalho artístico, daquela cerimônia. da mesma maneira que o futebol cria uma identidade coletiva comum, essa empreitada de saint laurent tinha o mesmo objetivo: fazer a gente sentir que, assim como o futebol, a moda é nossa, é para nós, todos nós.


(tem um texto muito bom, chamado “football as a world view and a ritual”, do antropólogo francês christian bromberger, que fala dessa relação de identidade e integração que os fãs do futebol setem. ele diz que, embora o jogo seja, à princípio, uma demonstração cultural fútil - como a moda costuma ser vista - é durante as partidas de futebol que se sente uma atmosfera de união que cria uma identidade cultural inequívoca. a moda tem o mesmo poder, só precisamos sentir que ela está tão nas nossas mãos como o futebol).

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