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O Woodstock do Punk: Rock Against Racism

[texto publicado originalmente na fresh people]

“Nós queremos música real, música da rua, música que destrói o medo que as pessoas têm umas das outras. Música de crise, música de agora, música que sabe quem é o inimigo real!”

Foi com esse slogan que um grupo de artistas, que se apresentava como Rock Against Racism (ou RaR), abriu seu manifesto em 1976: um convite à juventude inglesa para se juntar a uma luta da arte e da música pela liberdade e contra o racismo.


A ideia começou como uma empreitada entre amigos, com um pequeno show em Londres, mas o conceito se espalhou pela Inglaterra: em menos de um ano, várias cidades tinham grupos RaR locais, com seus próprios encontros e shows, normalmente com bandas do punk, ska e reggae.


Parte do sucesso do movimento se devia ao fato de que muitos artistas do Reino Unido queriam se posicionar contra comentários de cunho fascista feitos por Eric Clapton, que em um show advogou pela expulsão de imigrantes muçulmanos e jamaicanos da Grã-Bretanha, e David Bowie, que em algumas entrevistas foi citado dizendo que “a Inglaterra precisava de um líder fascista” (comentário que ele mais tarde justificou ser parte de sua pira militar da época, o alter-ego Thin White Duke, extremamente influenciado por seu vício em entorpecentes).


O ápice do RaR rolou dia 30 de abril de 1978, quando com a ajuda da Liga Anti-Nazista Britânica foi organizado o “Rock Against Racism Carnival”: uma marcha por Londres em protesto ao racismo que culminou num show aberto e gratuito no Victoria Park.


No line up, nada mais, nada menos que as bandas punk The Clash e X Ray Spex e o grupo de reggae Steel Pulse, cujos membros costumavam se apresentar vestidos de Ku Klux Klan para tocar seu single de mesmo nome.


O sucesso foi tão grande que, alguns meses depois, houve uma nova edição em Manchester, na qual tocaram os Buzzcocks, e o evento seguiu acontecendo até 1981 - mas nunca com o mesmo sentimento daquele 30 de abril, em que músicos negros e brancos dividiram palco, equipamentos, instrumentos e roadies para fazer música para o povo, contra o fascismo e o racismo: o dia que ficou conhecido como “o Woodstock do Punk”.

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