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reform school girls, o filme que é uma viagem camp



encontrei o filme reform school girls, de 1986, numa lista de filmes sobre garotas rebeldes num post de blog de 2014. ao qual cheguei através de um tiktok sobre o estilo dessa itgirl de 11 anos, tavi gevinson, que no começo dos anos 2000 tinha seu próprio blog de estilo. achei a cara da menina familiar então fui pro pinterest e descobri que hoje ela é adulta e atua na nova versão de gossip girl - e também encontrei o antigo blog dela.


perdi algumas horas nessa imersão porque, cara, que delícia, que saudade dos blogs dos anos 2000! o da tavi era muito mais que um blog de looks, também era um diário, e um lugar de pensamentos, e ela postava imagens e desenhos e fotos, e falava do que ouvia e do que tava assistindo, foi um ótimo passeio pelo passado. e foi nesse passeio que tropecei em reform school girls - que adicionei à minha crescente lista de filmes sobre gangs de mulheres e garotas se rebelando.

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o filme se passa num reformatório juvenil para mulheres, ao qual chegamos junto com duas novas alunas, que foram pra lá por comportamento problemático: jenny, a protagonista, era a motorista num assalto que seu namorado orquestrou e deu errado, e sua colega lisa, que tem algum tipo de síndrome pós traumática por uma infância tenebrosa e precisa de afeição e acompanhamento psicológico, não uma prisão juvenil.

no começo pareceu que o filme não passava de uma pira masculina levemente pronográfica do que é uma prisão feminina - todas as mulheres no dormitório são saradas, usam calcinha fio dental, salto alto e lingerie o tempo todo e há uma tensão sexual lésbica constante, com catfights e mulheres se agarrando sensualmente, embora todas - TODAS - elas sejam heterossexuais. a única cena de sexo do filme é hétero - e preciso admitir que é uma cena tão tesuda que voltei uma 4 vezes pra ver do começo.

a única cena de sexo (mas não a única cena de nudez)

fiquei um pouco frustrada e nos primeiros 20 minutos pensei em desencanar do filme - insisti porque a antagonista do filme, a prisioneira doidona e agressiva charlie, é interpretada por wendy o. williams, uma das pessoas mais foda do punk e do underground, que sempre se apresentou de lingerie - e às vezes até nua - e nunca por imposição de ninguém, era parte da persona de palco dela. se wendy o. williams tava de boa, o mínimo que eu podia fazer era assistir e honrá-la (embora digam que ela não tenha gostado do resultado final do filme).

"fuck 'n' roll or fuck off" diz a camiseta de wendy o.

pouco a pouco fica claro que tudo no filme - inclusive a visão machista-erótica das mulheres vivendo no reformatório - é pra ser uma tiração de sarro, uma versão caricata e non sense dos filmes de prisão feminina que o próprio diretor havia feito antes. admito que saber disso não deixa menos desconfortável, aqui em 2021, assistir um filme cujo elenco INTEIRO é de mulheres (de quantos filmes podemos dizer isso?), em que grande parte delas está o tempo todo semi-nua.

o reformatório é comandado pela sádica enfermeira sutton e sua superiora, a diretora edna. o que começa como uma comédia nonsense e erótica aos poucos vira uma pesadíssima comédia de humor negro, com momentos apenas negros e sombrios mesmo, e nada de humor. pra quem precisa de cuidado, o filme tem tortura, suicídio, trabalho forçado, descaso médico, abuso de poder e violência psicológica. mas, assim, é uma comédia. que chega a beirar o mau-gosto, por vezes? sim. mas a proposta é justamente essa - um exagero camp, absurdo, que trata certos temas-tabu de maneira surreal. não é pra todos, admito, mas eu gostei da profundidade repentina que o filme alcança, e do humor revezado com terror absoluto.



o fim é catártico, ainda que também pesado e violento, e a experiência do filme é tão absurda, tão viagem, que é divertida o suficiente pra gente conseguir superar as frustrações.


a trilha sonora é ótima, com rocks pesafos oitentistas, a maioria cantados pela própria wendy o., e uma versão de so young, so bad, so what da etta james que não achei no spotify.


resumão: filmáço, curti.

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