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  • Foto do escritormelody erlea

repetir roupa é igual repetir música

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não sei vocês, mas tem dois tipo de música que ficam on repeat aqui desse lado da tela:

1. tem aquela música que tá on repeat faz diassssss, é uma música que você acabou de conhecer e pela qual acabou de se apaixonar, e fica ouvindo sem parar porque ela é novidade, é quase uma aventura: é achar aquela peça de roupa bafão, única, cujo destino era ser sua, e aí usar a roupa imediatamente e por vários dias seguidos, sem cansar.

minha música do momento é a fresquíssima recém saída do forno bad liar da selena gomez, em especial a seguinte versão, pela banda haim, que deixou a música ainda mais charmosa com uma cantoria levemente desafinada e uma percussão em copos (desde pitch perfect todas ama uma percussão em copo, néam):

pensem na versão da selena como aquela tendência do momento que você não resistiu, tá curtindo à beça e usando loucamente. pensem na versão da haim como aquele achadíssimo de brechó, uma peça linda e esquisita de leve, um pouquinho peculiar mas ainda assim interessante, uma roupa que só você tem e que desde que achou você não tira do corpo. 

uma das coisas mais legais em bad liar é que ela é evidência de como repetir música é legal - é tão legal, que se a gente pega só um pedaço de uma música que a gente ama, tipo o baixo, e repete em outra música completamente diferente, continua bom. é aquela blusinha mara que dá pra usar pra ir pra facool, pro trabalho e pra balada, e a gente repete sem nem pensar no assunto. foi o que a selena gomez fez com o baixo de psycho killer, aquela música do talking heads que todo mundo na balada indie se joga quando toca:

todo mundo conhece essa música, mas se alguém não apontar a gente nem percebe a repetição do baixo lá na música da selena. parece outra coisa totalmente, né? roupa boa também é assim - tão versátil que a gente repete e ninguém nem percebe, de tão boa que ela fica com qualquer roupa em qualquer situação.

2. tem aquela música que não é novidade, uma música que é sua companheira faz tempo, que às vezes fica guardadinha por meses (enquanto você tá lá repetindo aquela novidade que nem louca, sabe), mas de repente.... de repente você ouve ela de novo, e ela tá lá, linda como sempre, companheira ideal pra todos os seus ever-changing moods: é aquela roupa que você tem desde a adolescência, que sempre cabe, nunca fica esquisita, e te salva quando todas as suas outras roupas parecem não te acomodar direito (fisica e espiritualmente). é aquela roupa que você veste e sai se achando linda depois de experimentar umas 400 outras combinações e ficar insatisfeita.

minha música companheira fiel é forget the flowers, do wilco, em especial essa versão de 1997:

o legal dessa música é que eles tocavam lá em 97 e ainda tocam em 2017 - que nem aquela roupa que você tem faz anos e nunca enjoa, nunca passa a achar feia, nunca pensa em se desfazer. essas são as roupas mais legais: as que a gente usa independente de tendência, de sensação do momento. sabe ana julia, que foi sucesso super, hit de um verão, hino de uma época? e aí o los hermanos nunca mais tocou, por pura birra. esse é o tipo de roupa que a gente não quer: hits instantâneos que depois a gente nunca mais consegue olhar (lembra aqueles tênis de salto? lembra as estampas de "azulejo português"?). a gente quer roupas que sejam como forget the flowers: eternas, atemporais, incansáveis.

quando a gente pensa que grandes artistas repetem música, seja a selena gomez repetindo o baixo de psycho killer ou seja o wilco tocando uma música por 20 anos, não passa a ser meio óbvio que repetir é um ato de carinho?

a gente ouve no repeat músicas que a gente ama. músicas que nos dizem alguma coisa sobre nós naquele momento de nossas vidas. tem gente que prefere ver filme repetido do que novo. tem gente que vai viajar e viaja pro mesmo lugar. a gente repete pessoas: nossos amigos, nossa família. repetimos lugares que frequentamos, repetimos balada, restaurante, drink. tem gente que almoça a mesma coisa todo santo dia. 

repetir demonstra um vínculo, demonstra que aquilo nos faz bem e é parte frequente de nossas vidas. notar todas as coisas que repetimos no nosso dia-a-dia é um pouco como notar a nós mesmos, nos conhecer um pouco melhor. repetir é um ato de cuidado.

você repete o quê? qual filme você já viu setecentas vezes? quais são suas roupas e músicas que não saem do repeat? o que você acha que isso diz sobre você? conta pra mim, tô curiozzy.

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