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robber bride e os perigos da sororidade cega



vi um meme esses dias dizendo que há 2 jeitos de um adulto se relacionar com um livro: esquece tudo 3 minutos depois de terminar OU transforma aquele livro na sua personalidade inteira pelos próximos 3 meses. eu tô definitivamente tendo uma relação de obsessão com o último livro que li, robber bride, da margaret atwood (a mesma que escrever o conto da aia), o qual terminei uns meses atrás e me impactou tanto que não consegui ler mais nada direito desde então.


o livro conta a história das amigas tony, roz e charis, que se conhecem desde os tempos de faculdade (que elas frequentaram nos anos 60), e nos anos 90, com vidas feitas, filhos crescidos, a coisa toda, se encontram uma vez por mês pra almoçar e se atualizar sobre as vidas umas das outras.


elas são BEM diferentes, e fica-se subentendido que elas se aproximaram, décadas atrás, por causa de uma quarta amiga que tinham em comum, que está morta há anos: Zênia. percebam aqui a presença de uma raríssima letra maiúscula - eu não me atreveria a me referir a Zênia de outra maneira.


conversa vai conversa vem, a gente fica entendendo que essa Zênia é um FURACÃO, e não no bom sentido. ela, de algum jeito, AZUCRINOU a vida dessas três moças no passado e, mesmo depois de sua morte, ainda causa calafrios nas três. não vou me extender aqui nos pormenores de como ela fez a c&a (usou e abusou) das três amigas, porque seriam spoilers e esse livro é bom demais pra eu estragar sequer um segundinho da sua leitura.


mas enquanto as 3 estão conversando em seu almoço mensal, agradecendo a morte da mulher que as uniu de maneiras bizarras e trágicas, quem entra pela porta do restaurante, numa cortina sensual de fumaça e volumosos cabelos negros?


ela mesma, a própria, ZÊNIA.


inspirado num conto de tradição oral, publicado pelos irmãos grimm, "the robber bridesgroom", em que um ser monstruoso atrai e devora três donzelas que lhe são oferecidas em casamento, o livro de atwood nos traz uma perspectiva extrema e pessimista - assim como handmaid's tale - do impacto do feminismo da década de 1970 e a subsequente ideia popular de "guerra dos sexos".


zênia, o monstro da história, é uma lembrança de que sororidade nenhuma nos protege da má índole que é intríseca ao ser humano, e que a versão comercializada do discurso feminista pode uma armadilha para mulheres vulneráveis. assim como o ser do conto original, zênia devora, metaforicamente, todos que passam por seu caminho (uma ideia que atwood já havia usado em seu livro de estréia, the edible woman - ou a mulher comestível - publicado em 1969, em que uma jovem recém noiva sente que está sendo pouco a pouco devorada pelas pessoas de sua vida).


RESUMÃO: LEIA MARGARET ATWOOD, GOSTOSO DEMAIS

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