melody erlea
me vestindo da minha vó: um exercício em amar a história das minhas roupas
foi no começo do ano passado que a gisele, do cabidaria, me convidou pra responder a pergunta "de quem você se veste?". na época tirei essas fotos aí embaixo e falei sobre me vestir da minha vó - com roupas e acessórios que eram dela.
aí uma semanas atrás a maravilhosa stella, do @diga_xs, lançou um desafio de looks de brechó: roupa de vó, e eu aproveitei pra novamente exibir as roupas que herdei da minha vó, preciosidades do meu tesouro, símbolos da história, e tão tão lindas!

decidi fotografar um luquinho que eu nem sei se usaria na vida real, mas que amo muito porque ele é inteiro de peças dos meus avós. o tricô de lã era do meu avô desde sua juventude (pinica bagarai, tenho que usar sempre com manga comprida por baixo pra não pegar diretamente na pele) e a saia era da minha vó. ela comprou esse tecido com estampa de bicho e fez uma saia pra uma festa a fantasia na qual ela foi vestida de cigana (eles são romenos então não era apropriação cultural).

como esse luquinho realmente ficou com uma vibe vó e eu gosto de uma coisa mais moderninha, tentei balancear com botas pesadas, meia verde e acessórios pesados que eram, todinhos, da minha vó. os anéis da minha mão direita são os que ela usou todo dia a vida toda, e a corrente grossa também. o resto veio do baú de tesouros dela - praticamente todos os meus acessórios eram da minha vó e eu, como ela, gosto de usar os mesmos todos os dias!

esse é um luquinho de mil-novecentos-e-vovó-gostosa - bem literalmente!
minha vó era super prafrentex e lá nos anos 60 já exercia a criatividade e sustentabilidade costurando e pintando seus próprios biquínis e saídas de praia.
a bem da verdade vovó tinha um pé no faça-você-mesmo e outro pé na esnobice da haute couture: vira e mexe citava umas grifes que moravam no armário dela e adorava mencionar cores em italiano e francês que haviam sido tendência em 62. nunca me esqueço de olhar prum sapato de salto, estilo boneca, bem vintage bem mod - tipo os da @sarahchofakian, só que autênticos e originais de época - e dizer que queria pra mim pra tingir de vermelho.
ela passou uns bons minutos dizendo desesperada "meus sapatos grigi rucci! gridi rucci!" e poxa você já viu alguém tão comovido por causa de sapatos da cor CINZA PEDRA? taí um drama que na era da análise de cores simplesmente não existe, a gente veste qualquer cor menos cinza pedra. e duvido que ficaríamos tão chocados ao ouvir que alguém quer tingir sapatos cinza pedra de vermelho.
mas de volta aos biquínis: esse aí da foto foi um dos que sobraram, juntamente com a saia envelope tamanho único (porque lá nos anos 60 vovó já tava subvertendo a ideia de roupa pra certos tamanhos) - e eu, diferente dela, gosto de usar minha saia na cidade mesmo, pra trabalhar, curtir e passear. vovó ficaria escandalizada, mas os tempos mudam e essa é a beleza da moda: ela segue funcionando, é só a gente olhar com carinho.
olha aí embaixo ver vovó na juventude (ao lado do meu vô e do meu pai) usando um de seus biquinis originais!

o luquinho seguinte pro desafio da @diga_xs de roupa de vó é um dos mais especiais da vida, se liga:
além desse trench coat maravilhoso ter sido da minha vó, ele é um pierre cardin original dos anos 60! isso é uma peça histórica por mil motivos, mas principalmente porque pierre cardin lançou em 64 a coleção cosmocorps que basicamente moldou a moda futurista dos anos 60. ainda preciso descobrir se esse casaco é uma peça pret-a-porter dessas coleções icônicas ou se é de outro ano, mas de qualquer jeito é um tesouro de um designer importantíssmo de uma década histórica. ce tá loko, que maravilha e honra vestir essa roupa!
por baixo do trench coat tem luquinho nenhum porque eu tava com preguiça de pensar e só queria mostrar o casaco mesmo, mas completei calçando meu mai novo xodó: esse coturno doc martens que eu comprei no enjoei! tô muito apaixonada e nem acredito que achei um do meu tamanho num preço que rolasse eu pagar.
de resto, as mesmas bijus de sempre: anéis e correntes que eram da minha vó pra completar o tema.

nesse luquinho que fotografei pro desafio da @diga_xs de roupa de vó, tô usando:
- colete de paetês que era da minha vó, uma preciosidade que uso pouco porque cada usada significa o sacrifício de algumas lantejoulas vintage, e óbvio que estou preocupada com os microplásticos no oceano mas também não quero que o colete se acabe muito antes de eu me acabar desse mundo.
- camisola real-oficial dos anos 40, um tesouro que encontrei no @devantvintage e tem tanta história mas tanta história: o degradê na cor conta uma história, o plissado conta uma história, o design do decote e da silhueta conta uma história, e até o material, socorro, até o material que é simplesmente poliéster, até ele conta uma história. e a marca da camisola também conta uma história, uma das mais legais porque é sobre moda brasileira! um dia eu vou contar todas essas histórias pra vocês, juro, mas por enquanto eu vou apenas admirar esse item histórico que podia estar num museu mas mora na minha casinha e veste o meu corpinho, que honra.
e os mesmos curturnos doc martens de antes!
o último luquinho pro desafio da @diga_xs tevecolete vintage que era da minha vó (era um casaco comprido, eu encurtei e tirei as mangas) e coturnos dos sonhos da @vilelaboots que eu garimpei no #incrivelbazardetrocas, ou seja, custou zero dinheirinhos! amo/sou um visu gratuito. e vamo combinar que eu tô bem de coturno, hein?