melody erlea
sobre usar conceitos, e não looks, como inspiração
eu escrevi pedindo por ideias de post, e me responderam pedindo por: dicas de estilo, posts sobre consultoria, dicas de filme/livros/material sobre moda. tô vendo que cês tão menos interessados nas minhas reflexões sobre vida, dinheiro e consumo e mais interessados nas rôpa tudo, e eu faço tudo que meus leitores pedem.
outra coisa que acontece bastante é eu receber perguntas por comentários, tanto aqui quanto no instagram, sobre peças de roupa específicas, sobre roupa íntima (se compro, se não compro, quais que tenho pra poder não comprar por um ano), sobre tatuagem (onde vivem, do que se alimentam, dói, não dói, eu penso nas cores das tatuagens pra decidir minhas roupas?, eu escondo pra ir trabalhar?), sobre ser professora (se é legal, se é cansativo, se é estressante, quão flexíveis são meus horários, qual é o valor hora-aula ideal pra poder viver como eu), sobre livros, filmes e material geral relacionado a moda, sobre sapatos (se me livrei de todos os saltos, quantos sapatos eu tenho, por quanto tempo eles duram, quais modelos são confortáveis pra quem, como eu, fica de pé o dia todo).... recebo todo tipo de pergunta mas acabo respondendo com mais frequência e rapidez quem fala comigo através das mensagens do instagram, por motivos de é mais fácil e consigo responder diretamente pra quem perguntou. assim, muitas perguntas acabam ficando perdidas pelos comentários do blog, algumas acabam sendo respondidas em posts, mas muitas não. pra (tentar) resolver esse problema, criei esse curious cat do repete roupa, e vocês podem perguntar o que quiserem pra mim diretamente por lá (e pode ser anonimamente, pra quem preferir), e aí eu respondo, diretão pra dona da dúvida, sem ruído, interferência ou obstáculos. as mensagens do instagram e do facebook também continuam sendo um bom caminho pra quem quer respostas imediatas e particulares, e os comentários aqui do blog continuam abertos pra quem quer compartilhar pensamentos, filosofias, ideias e opiniões sobre o que eu escrevo (pode compartilhar pergunta também, só fica um pouquinho mais complicado de receber resposta).
um comentário que recebo bastante, em diferentes tons, é que meu estilo é (embora lindo, risos) muito alternativo, e acaba ficando difícil reproduzir minhas ideias quando a pessoa é mais básica, mais clássica, mais, digamos, "normal". eu, honestamente, me acho bem pouco alternativa, acredito que abaixei BEM o volume da esquisitice desde a adolescência, e acredito que se a gente tivesse menos preguiça e mais criatividade todo mundo seria tão alternativo quanto eu, no sentido de que todos nos sentiríamos seguros e confiantes pra expressar quem somos ao nos vestir. isso não quer dizer que todo mundo ia usar roupas coloridas e estampadas, que nem eu, e brincos feitos de brinquedo, que nem eu, mas que todo mundo entenderia que a roupa, uma vez que comprada, é nossa, e a gente usa como quiser.
ainda assim, pra quem se sente muito mais comum do que minhas roupas parecem ser, é preciso lembrar sempre que, ao seguirmos e lermos blogs de looks do dia, precisamos focar menos em tentar reproduzir ou copiar os looks, e enxergar conceitos e ideias por trás dos looks que podemos aplicar na nossa vida e no nosso estilo. a thaís farage falou disso no instagram esses dias, e vou usá-la como exemplo.
esses são os dois looks com o mesmo "conceito" que ela publicou, e explicou: o conceito aqui é, pernas de fora, blusa larga e confortável, mix de cores neutras e de texturas. pra eu reproduzir esses conceitos, não preciso ter o mesmo estilo da thaís, nem as mesmas roupas, nem o mesmo emprego e nem o mesmo estilo de vida. inclusive eu e thaís vemos moda e beleza de maneiras beeeeem diferentes, mas ainda assim ela é uma inspiração. isso quer dizer que eu não preciso ter o mesmo shorts, o mesmo tênis ou a mesma blusa que ela. não preciso sequer seguir o conceito inteiro do look: gostei das proporções que a roupa cria (pernas de fora, parte de cima mais larga) e a mensagem que ela passa (dia-a-dia urbano, fora do escritório, confortável, moderno), mas não sou dos cinzas e pretos; posso reproduzir o visu mas com outras cores. gosto das cores, da mistura de neutros, do mix de texturas, e dos caimentos, mas não saio com as pernas de fora; então troco o shorts por uma calça e mantenho as outras ideias. e assim nós vamos aprendendo mais sobre o que gostamos e o que funciona pra gente, ao invés de querer comprar o mesmo tênis, o mesmo vestido ou a mesma bolsa de alguém que vimos na internet.
a gente tem que aprender a ver e reproduzir conceitos, não looks. um exemplo disso, aqui nesse blog, é a semana que fiz homenageando o filme rock horror picture show. me inspirei em conceitos, em silhuetas e em uso de cores pra montar meus looks, e assim fiz minha releitura dos figurinos do filme.
outro momento em que me inspirei no conceito de uma roupa, foi quando ao ver um look da fernanda, do soshopaholic, montei meu primeiro visu da semana 19.
o conceito aqui é: vestido neutro de botões e cor na cintura. o meu vestido é diferente do da fernanda, eu troquei o lenço (que não tinha) pela faixa de kimono, nossos acessórios são outros, nossos sapatos são diferentes, nosso cabelo, emprego e rotina são diferentes, nós moramos em cidades diferentes e provavelmente nos movimentamos pelas nossas respectivas cidades de maneira diferente. ainda assim, ela é uma inspiração. gostou do conceito mas não tem vestido de botões? qualquer vestido neutro acinturado com lenço, cinto ou fita colorida já reproduz a ideia. tem um vestido similar mas o dresscode do seu trabalho não permite tênis? só trocar o sapato. amou o look mas precisa trabalhar de preto e branco? reproduza a silhueta, troque as cores. tem as peças em cores inversas, vestido colorido e lenço neutro? também funciona e também dá pra se inspirar.
eu tenho três pastas no pinterest chamadas "looks que consigo reproduzir com roupas que possuo", uma pro verão, uma pro inverno e uma pra meia estação. eu não tenho as mesmas roupas que estão nas fotos, e com certeza não sou alta, loira, modelo e rica como a maioria das moças nas fotos. mas eu sei que, sem ter que comprar nada, consigo imitar as ideias dos visus, os conceitos, as silhuetas, as cores.... eu demorei pra aprender e entender isso: a gente não pode deixar os blogs de look do dia nos fazerem sentir inadequadas, pobres, feias ou com as roupas erradas. a gente não pode deixar os blogs de look do dia nos convencerem a comprar roupa pra podermos nos vestir como blogueira x, y ou z. a gente não pode acreditar que as roupas que a gente vê em blogs de look do dia são as roupas ideais, as roupas do momento, as roupas que a gente tem que ter.
a grande revolução dos blogs de look do dia (e do instagram e de qualquer plataforma em que pessoas reais mostram como vivem), é desassociar a moda e a roupa das grandes marcas e da publicidade que retrata um estilo de vida ideal, que a gente fica querendo copiar comprando cada vez mais roupas. os blogs de look do dia, pra mim, tem valor porque são escritos por gente de verdade, que usa roupa de verdade, num dia-a-dia de verdade. eu quero ver, em blogs e instagrams, gente de verdade. gente que não tá tentando me vender coisa, gente que usa roupa barata com estilo e elegância, gente que não é magra e alta e rica, gente que não trabalha com moda, gente. GEN-TE. quando o blog de moda se apropria das mesmas motivações das grandes marcas e publicidades - que é vender porrinha fashion pra gente - a coisa toda, a meu ver, perde o propósito.
e isso tudo, galera, eu aprendi na marra, depois de comprar MUITA roupa pra tentar imitar look de blog de meninas maravilhosas - mas que tavam fazendo eu ficar mais pobre e me sentir mais feia e mais mal-vestida. só consegui encontrar um estilo que posso chamar de meu, só consegui ter no meu guarda-roupa uma coleção de roupas que me representam e que eu gosto e uso, depois que fiz uma dieta de blogs de look do dia (que veio junto com uma dieta de redes sociais). tive que me isolar da influência tão poderosa dessas meninas, porque as fotos eram inspiradoras, sim, mas tavam me inspirando a ser como elas. e não dá pra gente tentar ser outra pessoa, gente, é muito difícil e muito frustrante.
por isso gosto de bater muito na tecla do conceito da roupa. quando a gente gosta de um look, é legal se perguntar "o que eu gostei nessa roupa?" foram as cores? foi a silhueta? foram as texturas? foram as peças? a partir daí, a gente pensa em como reproduzir o que nos agradou com as coisas que temos em casa. se você tem uma pasta de referências de looks, ou curte certos looks no instagram, se sabe quais são as blogueiras que te inspiram, é muito fácil olhar o todo e perceber quais estilos te agradam, quais cores, quais comprimentos e proporções. é comum que, mesmo inconscientemente, mesmo sem a ajuda de uma consultora, a gente compre as roupas seguindo um padrão do que nos agrada, (menos quando, né, a gente sai comprando as tendência tudo do momento, aí fode o rolê, galera), e aí o que nos resta é a paciência e o cuidado de olhar pras nossas roupas de maneira mais atenta, pensando nos tais dos conceitos de visual que queremos reproduzir ao invés de pensar em peças de roupa individuais. e é assim, que mesmo sendo mais básica, ou mais romântica, ou mais monocromática, ou mais clássica do que as mulheres que a gente segue e aprecia, a gente aprende a nos vestir melhor, a comprar menos e a entender como gostamos de nos cobrir.
uma reflexão final: se nada no seu armário cabe dentro das suas referências, se as coisas que você gosta e aprecia estão completamente incoerentes com as roupas que você tem, esse é o momento de reavaliar seu processo de compras e seus pensamentos ao escolher suas roupas. ou, talvez, reavaliar suas inspirações - elas te inspiram porque você se identifica com elas ou porque elas retratam um estilo de vida e de se vestir que você considera como algo a ser alcançado, mesmo que sua vida não realmente comporte isso?