para ler ouvindo mirror, mirror, do dr. dog:
To-morrow, and to-morrow, and to-morrow,
Creeps in this petty pace from day to day
To the last syllable of recorded time,
And all our yesterdays have lighted fools
The way to dusty death. Out, out, brief candle!
Life's but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing
(shakespeare - macbeth)
a narrativa semanal dos looks é uma doideira - que as roupas comunicam, não falta consultora de estilo dizendo por aí, mas me surpreendo sempre com as ficções que escrevo só no meu vestir.
por aqui, percebo, cada um me enxerga de um jeito. há 6 anos vou tentando lapidar e construir meu estilo pra que ele conte a história que eu escrevi na minha cabeça, e há 6 anos as diversas histórias que meus looks contam seguem sendo muito mais múltiplas e sujeitas ao olhar do outro do que a versão que eu criei, com o enredo que eu queria que vocês lessem. a cada semana fica mais claro pra mim quão pouco controle eu tenho sobre minha própria narrativa.
a mim e ao meu estilo vão sendo atribuídos nomes, etiquetas, categorias. maximalista, cluttercore, colorida, roqueira, estampada; e semana a semana eu tento me despir dessas palavras, afastar minha imagem de qualquer coisa que seja rotulável, eu não quero ser nada disso, eu não me sinto nada disso - boa parte do tempo eu não me sinto nada.
e semanalmente eu tento vestir esse nada de histórias. mas histórias são só histórias. e agora eu tenho quase meio ano de histórias que eu inventei, e de roupas que nem de longe conseguem expressar a narrativa real do que acontece dentro de mim.
5 meses de looks, 5 meses de tentativas desesperadamente frustradas de caminhar no ritmo do resto do mundo, de um pacto comigo mesma: caminhar pra fora da névoa. mas a questão de caminhar pra fora da névoa é que a gente precisa seguir caminhando, sem parar. senão a névoa alcança.
e nesse quase meio ano o que tenho pra mostrar é uma sensação profunda de um deja vu paradoxal, de uma vida que se repete eternamente ao mesmo tempo em que nada nada nada permanece. o que tenho pra mostrar são os 5 meses das roupas que usei pra convencer a mim mesma de que eu não tô só vestindo umcorpo vazio com histórias, mas que eu sou uma história acontecendo, o tempo todo.
mesmo quando eu tenho certeza absoluta da farsa que eu mesma montei pro meu próprio entretenimento. life is a tale told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing.