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  • Foto do escritormelody erlea

tão falando por aí que é fashion revolution week

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alguma semanas atrás escrevi sobre o armário cápsulo e sobre nossa capacidade de transformar tudo em "tendência". a tendência do guarda-roupa que dura 3 meses com 30 e tantas peças me incomoda. e embora eu goste, apoie, queira fazer parte dessa fashion revolution, me incomoda muito a tendência de mostrar apoio, de "lutar" mostrando etiqueta de marca nas redes sociais.

eu quero que a indústria de moda mude, e eu não quero me sentir bem com roupas bonitas às custas dos outros. mas eu não vejo como mostrar nossas etiquetas de roupitchas feitas com trabalho semi-escravo na longínqua ásia e  marcar, taggear, linkar as marcas vai ajudar. comentei no facebook e no instagram que atualmente, clique é dinheiro. quando a gente gera clique, a gente tá indiretamente ajudando todas essas empresas a ganharem mais dinheiro, e se elas tão ganhando dinheiro, se o nomezinho da marca na etiquetinha da roupitcha tá rodando pela interwebs, tá tudo beleza. nada muda.

digo mais: quando pessoas, mulheres, blogueiras de maior alcance, postam suas etiquetas por aí, na boa intenção de perguntar quem fez essa porra aqui que eu uso pra cobrir meu corpo que eu não quero cobrir meu corpo com roupa feita de sangue dos outros, o que elas fazem na verdade é mostrar que compraram aquela roupa daquela marca, e com seu dinheirinho endossaram as políticas da empresa, incluindo a paupérrima senão inexistente fiscalização de suas fábricas terceirizadas lá na longínqua ásia. quando a gente posta a etiquetinha, a gente tá falando: "comprei isso aqui, não apenas comprei como marco a empresa nessa postagem pra meus seguidores clicarem, apoio a empresa, dou meu dinheiro pra ela com orgulho e tiro foto e posto no insta pra provar". desculpem a amargura, talvez eu seja radical, mas é isso que eu vejo, assim que eu interpreto.

o que eu não vi ainda foram as respostas das marcas. até vi, de uma ou outra que eu já sei que se importam e se preocupam com o processo inteiro de produção - normalmente marcas mais artesanais. mas aí, tá, postei minha etiqueta, marquei a empresa, postei a hashtag quem fez minhas roupas, e a empresa não se pronunciou.

que que a gente faz agora?

agora que eu já comprei a roupa, já postei nas redes, como proceder com o silêncio? acho que esse é o tipo de momento que silêncio grita, sabe. acho também que revolução nenhuma acontece só por uma semana, e postar hashtag esses dias mas o resto do ano continuar contribuindo pra cadeia de fast fashion que produz em exagero, vende em exagero, polui em exagero, cria lixo em exagero, marketeia em exagero, e por tudo isso não consegue oferecer qualidade de vida para seus empregados na base da cadeia, que precisam lidar com todas essas demandas exageradas - e depois com a devastação e resquícios na saúde causadas por essa indústria. nada disso vale comprar aquela jaqueta baratinha super em conta mas que eu vou suuuuuper usar, é um item essencial.

acho que tudo isso só muda com atitudes consistentes o ano todo, então se é pra revolucionar, a gente tem que boicotar. não comprar, meus amigos, é o que vai pressionar todas essas empresas a agirem de maneira a reconquistar seus clientes. se a gente posta hashtag revolucionária mas depois continua comprando nas redes de fast fashion, nas marcas que não se pronunciam sobre a origem de seus produtos, nas marcas que não mudam suas políticas sun-humanas, aí a gente não fez nada. kd revolução? tinha mas acabou.

não acho que dá pra fazer revolução abrindo exceção.

o que eu tenho feito, então?

além de todo o processo de me livrar das tranqueira tudo que sempre comento por aqui, mantive comigo roupas que considero realmente ideais pra mim, pra pessoa que eu sou e quero ser, e acredito que tenho um número suficiente de roupas pra não precisar comprar mais por um bom tempo. assim, uso ao máximo roupas que foram compradas de marcas provavelmente envolvidas com trabalho escravo serão aproveitadas completamente. 

o não comprar, pra mim, é uma afirmação importante num mundo movido por dinheiro - e é por isso que acredito em boicote. além disso, se posicionar contra o status quo social e midiático que nos faz acreditar que precisamos sempre de mais coisas e de coisas mais novas também me parece relevante. 

então, não estou comprando nada (nadíssima) por um ano e gosto de acreditar que se por ventura no futuro eu tiver que/quiser comprar alguma coisa vou poder investir numa marca e numa empresa que se adequam ao meu modo de pensar e viver. são marcas que costumam ser mais caras, sim, mas uma vez que identificamos nossas reais necessidades e passamos a comprar e gastar menos, há possibilidade de investir mais e comprar melhor. comprar pouco e melhor, uma ação bem diferente do que comprar menos de marcas nada íntegras. exigir mudanças através de nossas escolhas de consumo, é nisso que eu acredito.

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um factóide pra vocês já que todo mundo marca etiqueta no instagram pra perguntar quem fez as roupas mas ninguém fala das marcas que tinham seus fornecedores no prédio rana plaza, em bangladesh, que desabou em 2013. algumas das empresas com fábricas terceirizadas no prédio na época do desabamento eram primark, wal mart, carrefour, benetton, jc penney e zara. algumas dessas marcas continuam com suas fábricas no prédio e em outros da região, e as condições não melhoraram muito nos 4 anos que passaram (e quando eu digo que não melhoraram muito significa que não melhoraram nada). algumas dessas empresas ainda não pagaram a compensação devida às famílias e pouco foi feito pra melhorar a fiscalização e as condições de trabalho nessas fábricas. 

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