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um adeus a mark lanegan

esse post acompanha uma playlist no spotify!

quando eu tinha uns 13-14 anos encontrei num blog uma playlist que mudou minha vida. "playlist" com MUITAS aspas, porque lá em 2001-2002 uma playlist era apenas uma lista de músicas que alguém publicava num blog. tipo, por escrito, só isso.


o blog era encaixotando deanna, que eu encontrei do melhor jeito que apenas a internet oldschool permitiria. não sei quantos de vocês lembram - quantos de vocês acompanhavam ou escreviam blogs na tenebrosa era da internet pré-redes sociais - mas o blogspot tinha uma função muito legal: uma barra no topo da página com os botões "previous", "next" e "random". você ia clicando e navegando por blogs diversos do mundo inteiro. foi nessas clicagens que caí no caixote da deanna, o blog de uma gótica paulista que fez meu pequeno cérebro adolescente explodirrrrrrr


ela não apenas contava sobre rolês no madame satã, como discorria, de um jeito que eu nunca tinha visto antes, sobre a questão do dresscode dos góticos, do ser poser ou não ser poser, da exagerada montação da galera e de sua preguiça de seguir esses padrões. pra ela, era sobre música, não sobre roupa ou estética ou lacração dark.

foi num dos posts dela que eu encontrei uma lista de músicas que incluía:


- mark lanegan - stay

- nick cave and the bad seeds - the ship song

- recoil - luscious aparattus

- einstürzende neubauten - blume

- leonard cohen - dance me to the end of love

- mark lanegan - ugly sunday


a lista também tinha joy division, smiths, clash - bandas que eu tava ouvindo muito na época. mas essa seleção listada acima tinha outra relação com o rock, com a tristeza, com a música; me marcou tanto que eu lembro até hoje cada uma das canções. baixei os mp3 e ~queimei um cd~ com essa playlist (e adicionei no meio ela é carioca, do tom jobim, porque sou assim bem coerente).

todo mundo nessa lista impactou profundamente meus gostos musicais, estéticos, abriu um mundo pra mim de descobertas, mas o mark lanegan, cara. o mark lanegan era outra coisa.


o timbre profundo do nick cave, lá aos meus 13 anos, me encantava e assustava ao mesmo tempo, e o leonard cohen era charmoso mas, por vezes, meio antiquado pros meus ouvidos regados à britney spears. já o mark lanegan.... ela era a combinação perfeita. a voz dele era profunda, doída, rouca como alguém que viveu mil vidas. as letras eram intensas, amarguradas e, também, românticas, com uma esperança quase vã (e também muito desejo de morte). e a sonoridade roqueira suja, o luquinho descolado, as tattoos, a amizade com cobain..... tudo nele era atraente, e sombrio, e cool.


eu demorei algum tempo pra entender que aquelas músicas não eram sobre amor, e sim sobre heroína, mas principalmente lanegan falava sobre uma escuridão puramente humana, que todos nós carregamos - e escondemos ou expressamos da maneira que nos convém. lanegan se deixou levar completamente pela escuridão por muitos anos, e quando a gente conhece sua história fica mais fácil entender como e por quê.

eu fiquei adulta, lanegan seguiu lançando discos, e eu tive a sorte de assisti-lo ao vivo algumas vezes nos últimos 10-15 anos. eu tive o privilégio de ter como ídolo um cara do rock alternativo que nunca fez sucesso mainstream, mas que fazia questão de vir pro brasil mais ou menos a cada dois anos. e em todo show a gente via as mesmas pessoas, gente como eu, que o lanegan conquistou e entendeu. me pergunto se deanna, do blog que me fez descobrir mark lanegan, estava em algum dos shows aos quais fui. me pergunto se ela imagina, em 2022, que um blog dela de 20 anos atrás impactou tanto alguém.

hoje, pensando na morte de mark lanegan, jovem demais, aos 57 anos - um cara que sobreviveu ao vício em heroína, a depressão, a vida nas ruas, à chata da courtney love, ao suicídio e overdose de seus melhores amigos, crushes e colegas - também penso muito em deanna, a gótica paulista que eu nunca conheci mas que me apresentou meu músico favorito.


porra, lanegáço. :~ e valeu, deanna.

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