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  • Foto do escritormelody erlea

vamos falar de coisas sérias: os entrelaces de buffy a caça vampiros


de tempos em tempos eu revejo do começo ao fim a série completa da buffy, a caça vampiros. é um festival de atuações ruins, peripécias sem sentido, seres do mal que viram do bem e vice-versa, modelitos 90s do tipo que as moças de instagram não querem reproduzir, e penteados da buffy, que são sempre uma surpresa (normalmente desagradável).

as três primeiras temporadas de buffy são geniais. o negócio é tão non-sense que buffy nos é apresentada sem explicação nenhuma - ela já é uma caça vampiros há alguns anos quando a série começa, e nunca se explica por que e como isso aconteceu. in medias res, aprendi na faculdade, é quando o leitor entra na história no meio dos acontecimentos. foi assim na odisséia, na ilíada, e, claro, em buffy a caça vampiros.

durante as três primeiras temporadas, buffy tem lutas extensas e cheias de ação com vampiros quando podia simplesmente enfiar a estaca e matá-los logo. essas cenas de luta são coroadas pela presença de dublês que são completamente diferentes dos atores originais, tipo com cara diferente e altura diferente e gênero diferente. porque claro que a gente não vai perceber que a magrinha e baixinha buffy foi substituída por um cara 30cm mais alto e uns 50 quilos mais forte que ela.

quando não tá lutando contra vampiros cruéis, buffy suspira pelos cantos por angel, o vampiro com alma que aparece aleatoriamente em alguns episódios pra dar dicas de onde encontrar os vilões e de qual é o objetivo deles (spoiler: o objetivo é sempre destruir o mundo, e sinceramente não sei como isso beneficiaria os vampiros e demônios no geral, afinal eles se alimentam de coisas do mundo???? tipo gente? e - descobrimos na sexta temporada (spoiler) - filhotes de gatinhos???? onde esses demônios sanguinários conseguirão gente e filhotes de gatinhos se o mundo acabar?).


o angel nunca realmente ajuda e nem fala muita coisa e anda assim com uma postura meio corcunda porque acho que lá em 97 meninos corcundas de regata branca eram a tendência. pelo menos na primeira temporada ele ainda usa as tais regatas brancas, porque depois ele passa a usar umas camisas hor-ro-ro-sas, gemt, quem teve essa ideia?

enfim, angel é o predecessor do tal do edward: pálido, corcundinha, lábios vermelhos à la robert smith, regatinha branca e blazer despojado por cima. ele é sensível e apaixonante e completamente sem sal e nem fala nada assim muito interessante mas a gente se identifica com a paixão da buffy mesmo assim por algum motivo.

aí passam as três primeiras temporadas, muitos fins do mundo que quase aconteceram, e buffy e seus amigos vão pra facool. na facool eles são adultos então seguem algumas temporadas de dramas adultos, o que quer dizer muita choradeira, muitos diálogos longos e sentimentais, todo um rolê desnecessário. até porque enquanto tudo isso acontece, buffy se apaixona por um cara que por acaso é de uma parte do governo americano que captura e lida com vampiros e demônios, o que faz a gente pensar: "bom, buffy, você passou as últimas temporadas dizendo que daria tudo pra ser uma menina normal, taí sua chance, você pode deixar os soldadinhos do governo resolverem agora". mas buffy é sempre surpreendente - uma personagem esférica, sabe - e decide não apenas continuar lutando contra as forças do mal mas lutar contra os soldadinhos do governo TAMBÉM afinal uma mulher pode tudo.

aliás nas três primeiras temporadas buffy é substituída não por uma mas por DUAS outras caça-vampiros (resultantes da não uma mas DUAS vezes em que buffy morreu - e o ponteiro só sobe nas temporadas seguintes. nem fox mulder morreu e voltou dos mortos tantas vezes). nas duas vezes ela prefere seguir segurando o fardo de ser uma caça-vampiros - até porque se ela deixasse suas colegas assumirem o posto, ia ser difícil pra buffy ter do que reclamar.

e mesmo que a protagonista seja uma mulher que pode tudo nessa que é sobre uma das muitas e muitas e muitas mulheres escolhidas para lutar contra o mal desde o começo dos tempos (todas mulheres, nenhunzinho homem) - a série até a quarta temporada é bem machistinha. aquele humor típico dos anos 90: falar que as pessoas fazem coisas "like a girl". toda hora dizem "you fight like a girl" "you run like a girl" "are you gonna cry like a girl?". inclusive tem um episódio que eu não consigo nomear de nada além de nojento, em que um cara tenta estuprar a buffy, mas ela é fodona e super forte e tal e consegue se livrar, mas fica, claro, em choque, triste, com raiva. quando chega na biblioteca (mais sobre a biblioteca em breve), onde seus amigos e seu mentor, o único adulto da série, estão e tenta contar pra eles o que aconteceu, eles reagem RINDO da cara dela, dizem que existem coisas acontecendo que são mais importantes do que os problemas dela e comentam que buffy SEMPRE põe suas crises adolescentes superficiais antes de todo mundo e todo o resto. fiquei chocada, triste por mim, triste pela buffy, triste por tantas meninas.

quanto aos amigos na biblioteca, eles são o que eles mesmo nomeiam "scooby gang", e ajudam a combater o mal com magia, amor, amizade, a força de buffy e um ou outro vampiro que está temporariamente bonzinho. até a terceira temporada eles estão todos na escola, e giles, o mentor de buffy, é o bibliotecário, então claramente faz sentido que sejam na biblioteca os encontros pra falar de forças sobrenaturais e como derrotá-las e também para treinar golpes de luta. a escola e a biblioteca parecem estar abertas e disponíveis pra eles o tempo todo, a qualquer hora do dia ou da noite, e é na biblioteca que eles também são atacados por vampiros e todo outros tipo de demônios horripilantes. no dia seguinte todos estão na escola e está tudo bem e ninguém repara em nada porque, né, quem liga pra biblioteca.

outro point da turminha scooby é a baladinha da cidade, que curiosamente recebe adolescentes e adultos no mesmo ambiente. buffy e seus amigos vão lá pra ~~curtir~~, conversar, dançar, criar estratégias pra derrotar vampiros e estudar pra prova de matemática do dia seguinte. soubesse eu que uma balada tinha tantos usos teria aproveitado melhor meu tempo na juventude.

o legal dessa baladinha é que ela é muito espírito 90s: tem sempre uma banda meio indiezinha da hora tocando, a galera tá sempre curtindo, os visus das bandas são incríveis, as músicas são realmente BOAS, cara, as bandas são BOAS. sabe? uma época que tocava música boa nas séries pra jovens e adolescentes? música de verdade, bandas novas, pô, que saudade. ir à balada pra curtir uma BANDA, cara, taí algo que eu sinto falta das noites paulistanas, uma banda obscura, uma banda de verdade, nova e boa, pôôôô, era maior legal.

eles vão ficando adultos e curiosamente deixando de frequentar a baladinha, e na 5a temporada todo mundo vai morar na casa da buffy porque, né, normal. além disso agora buffy tem uma irmã chatíssima que é também um plot twist à espera de acontecer, e também meio que uma tristeza pela vida difícil desses roteiristas que tem que inventar 9dades pras séries sobreviverem mais um aninho aqui, um aninho acolá. isso, aprendi também na faculdade, é o tal do deus ex machina: quando do nada aparece um personagem do qual a gente nunca tinha ouvido falar e ele é a solução de algum conflito ou serve algum propósito importante na história (propósito do qual não sabíamos até o tal do personagem aparecer) que vai fazer os acontecimentos irem adiante. isso, também me foi dito na faculdade, é a maneira mais pobre de você resolver seu romance, seu poema épico ou sua série de sucesso.

mas tudo se soluciona na sexta temporada, que é tão boa que a gente perdoa tudo que toleramos até aqui. os dublês agora se parecem com os atores. as lutas tem propósito. não tem mais cenas sentimentalóides de 10 minutos. os personagens parecem finalmente ter se encontrado em seus papéis e tá tudo muito bem desenvolvido. e tem um:

EPISÓDIO. MUSICAL.

não há nada no mundo que não se perdoe com um episódio musical de buffy a caça vampiros. isso eu não aprendi na faculdade, é STREET SMART mesmo.


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