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  • Foto do escritormelody erlea

assim caminha a humanidade


às vezes me bate uma síndrome de protagonista, sabe. só não é ainda mais vergonhoso porque a única pesssoa que sabe sou eu. mas eu acho, as vezes, que talvez eu esteja só na parte ruim de um filme sobre o pior ano da minha vida, sendo que no fim com alguma reviravolta metafórica eu descubro que só falhei em enxergar o lado bom. de repente me vejo no final romântico e leve de uma comédia de erros desengonçados e adoráveis que me levam ao meu destino (onde inevitavelmente repousa a felicidade).


mas eu não sou a protagonista de nada, e o fim é sempre a morte. e até lá, uma sequência de desventuras e enganos que a gente tenta desesperadamente tomar por lições. às vezes eu aperto assim os olhos, inclino a cabeca, tentando colocar em foco algo que claramente nem existe. tento me convencer de que o amor não é cego, só meio míope, enquanto continuamente ignoro todos os sinais me mostrando que o amor é burro mesmo.


e o pão que eu tento fazer descer goela abaixo nem foi o diabo que amassou, mas todas as outras pessoas no caminho apenas tentando viver suas vidas, ignorantes dos corpos que elas pisoteiam enquanto avançam em sua escalada. é tanta gente que vai passando, tanta gente que eu, ansiosa e confusa, prefiro evitar a todas. mas lá no meio pode ter alguém ou outro - ou isso é a tal síndrome de protagonista falando mais alto que a razão.


a névoa a névoa a névoa a névoa sempre chega.


e no meio da névoa há respiros, o sol bate, a gente descansa, só pra recomeçar a caminhada eterna pra fora dela. e, lulu bem sabia, os passos são de formiga. sem vontade alguma.


tantas vezes eu escolho caminhos, e continuamente me frustro ao entender, finalmente, quando já é tarde, que a escolha foi errada. que eu não vi o todo - a gente nunca vê, a gente tá eternamente fazendo escolhas baseadas numa miopia intrínseca e confortável. mas até nos erros há acertos, até na tristeza há felicidade, até na solidão há amor, até na miopia há alguma clareza, e sempre sempre sempre tem música boa, roupas bonitas, melhores amigas, e todo o tipo de pequenos acalentos.


a névoa chegando, mas o som no fone de ouvido alto demais pra eu sequer perceber. natural que seja assim, né, lulu?

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