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  • Foto do escritormelody erlea

wasted&ready


parece uma pira narcisista no espelho, e é, mas é também, incidentalmente, um diário visual dos meus humores: nesse dia eu tava bem, nesse dia eu tava triste, nesse dia eu realmente tentei, nesse dia eu desisti, nesse dia eu fui uma humana minimamente produtiva, nesse dia eu só queria passar 24 horas enrolada no sofá, mas ainda assim, against all odds, eu levantei, eu me vesti, eu peguei o elevador, eu fui trabalhar, eu desci o lixo, eu fui ao mercado, eu saí com o cachorro, e quem me viu na rua nem sabe que foi difícil. quem me viu na rua nem notou. nem me notou. quem me viu na rua, quiçá, nem me viu.


os registros no espelho das tentativas de me sentir confortável na minha própria pele, quando no fundo eu sei que não existe conforto, existe adaptação&fingimento.


o poeta é um fingidor, etc, mas e quando a gente finge sem poesia nenhuma? quando é só o automático passar dos dias sem fim e sem volta, quando é só uma grande ficha caindo: eu só sou algo enquanto sou útil. pros outros. eu só sou válida e existente quando alguém, em algum lugar, vê uso pra mim, pro meu corpo; e quantas vezes a realidade bate como num desenho do looney tunes, uma grande bigorna, um piano caindo do céu, PLÉM, e eu olho em volta pra me encontrar sozinha, eu e bigorna, comicamente inúteis.



descobrir-me, de repente, tão desconectada. tão submetida a amores e interesses condicionais, do tipo que acabam quando eu não cumpro uma função, uma expectativa, um roteiro de como-agir que eu nunca, na minha vida inteira, consegui entender. se tá escrito em código morse, em braille, ou só numa versão codificada de um idioma que eu deveria compreender mas pro qual nunca me deram um dicionário, jamais saberei. a bigorna pelo menos eu entendo - pesada, fria, silenciosa, portadora da clara mensagem: o mundo vai te esmagar. seja você a bigorna.


(mas eu não queria ser bigorna, eu queria ser flor)

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