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vamos falar sobre dinheiro (e como economizá-lo)

(ilustrado com as mensagens de wastedrita)

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esse, infelizmente, não é um post daqueles estilo buzzfeed caça-clique "como economizar dinheiro em 5 passos simples" ou "como juntar tantos mil reais em x meses com apenas duas mudanças na sua rotina". eu, infelizmente, não acredito em auto-ajuda. por outro lado, eu não acreditar em auto-ajuda é ótimo, porque eu não vou tentar te convencer a fazer nada com a promessa de mudar a sua vida pra melhor. eu tô aqui pra contar como eu, aos poucos, tô mudando a minha vida pra melhor. então tudo que eu digo aqui é o que realmente acontece comigo, o que não quer dizer que você vai fazer igual - afinal, nós não somos iguais.

algo que eu tenho de sobra é poder de observação. em muitos casos eu falo pouco, mas tô sempre ouvindo e olhando tudo que acontece ao meu redor, e isso é valioso. passei uma vida inteira observando meus pais, meus avós, minha tia, e atualmente observo bastante todos os adultos ao meu redor - colegas de trabalho, amigos dos meus pais, meus próprios amigos.

mas quando a gente fala de dinheiro, preciso lembrar um pouco nos meus pais. passei a vida inteira ouvindo duas coisas sobre dinheiro: sempre ouvi que o dinheiro não era suficiente. e sempre ouvi que alguns membros da família só pensavam e só falavam em dinheiro - sempre achei essa uma colocação curiosa, porque pra mim, durante toda a infância e adolescência, o que eu sabia é que todo e qualquer adulto só pensa e só fala em dinheiro. e eu sabia que não queria, de maneira nenhuma, ser uma adulta que só pensa e só fala em dinheiro. e não sou. mas hoje vou pensar e falar em dinheiro porque acredito que eu desenvolvi, não facilmente, uma relação saudável com esse conceito não-natural que é o de ganhar dinheiro.

meus pais sempre pareceram estar em tempos difíceis. era difícil pagar a escola pra mim e minha irmã, era difícil pagar as contas de luz, telefone, tv a cabo, era difícil pagar a faculdade de medicina do meu pai (que ele decidiu cursar depois de ter tido duas filhas e estar tendo que arcar com todos os custos relacionados a procriar), era difícil pagar por roupas e sapatos novos que duas crianças em crescimento precisam com tanta frequência, era difícil viver e ter que pagar por tudo que pagamos apenas pra poder viver. a vida era difícil, mas precisei de maturidade pra entender por quê.

desde cedo entendi que um padrão de vida aceitável e de sucesso tinha que ter todas essas coisas: escola particular, tv a cabo, telefone, celular, roupas novas, faculdade e um emprego que dá status.

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até março do ano passado eu ainda morava com meus pais, o que significava que eu não tinha muitos gastos, e que meu precioso dinheirinho podia ser gasto com coisas que me davam prazer. meu maior gasto sempre foi roupa, seguido provavelmente por gasolina e gastos com o carro em geral (que me dão zero prazer mas eu vivo num lugar desprovido de transporte público). além disso, eu vivia comprando quinquilharia, cacarecos, coisas de enfeitar, objetos fofos da daiso, bonequinho de desenho animado, delineadores mil, batons e esmaltes que eu usava uma vez, coca-cola, bijuterias diversas, lenços, echarpes, bolsas. além disso eu tinha um celular pós-pago com internet 4g ilimitada e minutos e sms ilimitados pra qualquer operadora. e além disso às vezes eu curtia almoçar fora, jantar fora, pedir comida, sair pra comer uma sobremesinha gostosa. e, claro, eu tava na época da chapinha a qualquer custo então vezenquando também ia ao salão pra lavar o cabelo e alguém fazer escova em mim pra eu não precisar fazer.

no final do mês, mesmo morando com meus pais - e mesmo ganhando quase o mesmo do que tô ganhando esse ano - eu não tinha dinheiro. isso quer dizer que muitos dos meus sonhos e vontades - viajar, morar sozinha, ter meus móveis, pagar meu próprio aluguel - iam ficando pra escanteio. sem contar que eu só consegui começar a juntar um dinheirinho, fazer meu pézinho de meia, ano passado quando me mudei. mas minha coleção de roupas, gemt, era de invejar. nas baladeenhas alternativas da rua augusta - baladeenhas eram outro dos meus gastos comuns dessa época - eu arrasava nos looks. no trabalho, que eu odiava, eu arrasava nos looks.

quando me mudei, estava trabalhando há 6 meses na escola que até então me pagava o melhor salário da minha vida. e depois desses seis meses, me ofereceram todas as turmas da escola e meu salário quase dobrou - foi aí que decidi que tinha condições pra me bancar, mas teria que editar alguns dos meus gastos pra não correr o risco de não conseguir pagar o aluguel e as contas da casa. os meus primeiros 6 meses morando sozinha foram 6 meses em que me comprometi a não comprar roupas. no entanto, gastei dinheiro com outras coisas: tive que comprar cama, geladeira, máquina de lavar roupa. potes pra cozinha, copos, uma mesa pra eu trabalhar. coisas e mais coisas na leroy merlin que hoje nem sei mais. enfim, eu troquei os gastos em roupas por gastos com a casa, e mesmo tendo ganhado muita coisa da minha mãe e da minha vó, esse período de mudança e de deixar a casa nova com cara de lar demanda uma certa grana. mesmo assim, gente, por causa do salário maravilhoso que eu tava ganhando em troca de 28 horas de aula semanais pra crianças mimadas e loucas, eu consegui juntar dinheiro. eu juntei o primeiro dinheiro da minha vida, e a sensação foi maravilhosa: não porque agora eu tinha um mar de grana guardada e podia ficar de boa, mas porque eu tinha um pouquinho de grana guardada, o que significava que quando a escola me demitiu e eu parei de ganhar o salário maravilhoso, eu não precisava passar as noites acordada me preocupando.

a demissão inesperada, além de ter sido um momento pra eu rever (de novo) meus gastos, foi um dos pontapés pra eu começar esse blog - principalmente porque agora eu teria tempo pra fazer coisas legais do tipo um blog pra falar sobre roupa. e aí percebi que tempo e tranquilidade são mais legais do que ganhar muito bem e adquirir uma úlcera por conta do stress (sim, isso aconteceu) e não ter tempo nem pra tomar banho. e percebi, então, o quanto da minha vida eu já tinha editado, e como me desvencilhar cada vez mais dos parâmetros de sucesso dos meus pais me fez aproximar e entender cada vez mais os meus parâmetros de sucesso. eu comecei a entender porque meus pais sempre reclamaram de dinheiro; eles o gastavam em coisas, a meu ver, desnecessárias pra não ficar pra trás, pra não parecer que eles tinham menos, pra estar de acordo com um padrão de estilo de vida que os ensinaram como ideal.

e por causa desse estilo de vida ideal, claro, nossos pais são toda uma geração de gente que teve filho cedo demais apenas porque ter filho é o que se deve fazer. uma geração inteira de gente pondo mais gente no mundo sem estar preparado financeiramente e mentalmente pra cuidar dessas crianças todas, apenas porque é assim que um adulto deve viver. uma geração toda de gente se endividando com casa, carro e filho pra seguir padrões de vida absurdos que a gente não questiona e que dominam nossas existências e nossas mentes.

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lembro que anos atrás - não muitos anos, uns dois ou três no máximo - eu estava conversando com uma amiga minha pelo whatsapp quando ela disse "bom, miga, agora vou desligar o 3g que tô na rua e não quero gastar". lembro que na época achei aquilo tão absurdo: como alguém consegue viver sem ter internet veloz 4g no celular o tempo todo??? hoje em dia acho absurdo o contrário: como eu me dispus a pagar 180 reais por mês POR ANOS pra ter serviços ilimitados que eu nem usava? qual tinha sido a última vez que eu mandei um sms pra alguém? quando é que eu sequer telefonava pra alguém? e quanto à internet, eu não passava de 80 a 100% do meu tempo em locais com wifi disponível? a decisão de mudar meu celular pra pré-pago foi uma das melhores da vida. quando tem wifi ótimo, quando não tem ele fica lá quietinho na minha bolsa como deve ser, e meu gasto com telefonia móvel passou de 180 reais por mês a 50 reais por semestre. (sem contar que eu nunca mais na vida assinarei um contrato que dita que eu preciso ser fiel por um ano a uma empresa que se alimenta da minha alma, da minha felicidade e da minha vontade de viver).

além disso, não tenho tv a cabo - não tenho nem sequer tv aberta porque odeio tv e odeio propaganda. uso netflix que atualmente é pago pelo namo, e pago minha assinatura mensal do spotify - que tenho usado tão pouco que tô seriamente pensando em cancelar também - afinal a internet tem tudo de graça, o netflix e o spotify são apenas pelo conforto (o mesmo conforto desnecessário de ter internet e ligações ilimitadas no celular pós-pago). não compro mais livros, baixo todos para o kindle também de graça por meio da maravilhosa pirataria virtual. não vou mais ao salão de beleza, que inclusive sempre odiei, e não gasto dinheiro com tintura de cabelo ou nenhuma outra química - nada que exija manutenção que custe dinheiro e tempo. não compro maquiagem  - e digo isso não pra me colocar numa posição melhor do que mulheres que compram e usam maquiagem. pra mim, maquiagem era uma obrigação, algo que eu tinha que fazer pra ser aceita socialmente, mas nunca foi algo que eu gostei. conheço muitas mulheres que enxergam o momento da maquiagem como um momento de paz, meditação, auto-conhecimento, um momento pra elas e só pra elas. cada um tem o momento de meditação que lhe convém, maquiagem só me causa desgosto. não tenho telefone fixo (alguém da minha geração tem?), não deixo eletrodomésticos na tomada quando não estão sendo usados, não compro balas, chicletes, refrigerantes, sucos de caixinha e bebidas açucaradas no geral (inclusive chás - eu bebo água em todas as refeições, até café da manhã, mas isso é menos por economia e mais por gosto pessoal mesmo. de qualquer jeito, fica aqui a reflexão: vocês já pararam pra pensar nas coisas que a gente bebe? não vou nem falar de café que é um troço horroroso e não entendo que seja apreciado, mas esses sucos de caixa, essas águas com sabor, essas coisas todas; por quê, gente? água é fresquinha e mata a sede e refresca e é tão bonita toda transparente e não atrapalha o gosto de nada, a gente foi feito pra beber água, galera). e pra coroar tudo isso, esse ano fechei a mão pra absolutamente tudo que não fosse necessário - até a minha listinha de compras necessárias do ano foi editada e não comprei nada que constava nela ainda - e não pretendo comprar até o fim do ano. algumas coisas não pretendo comprar nunca.

até hoje, dos gastos previstos tive só os comuns de morar sozinha: aluguel, luz, internet, gasolina. queria comprar um sofá mas não vou, até porque eu e namo estamos pensando em juntar nossas trouxinhas e ele já tem sofá, e quantos sofás um casal precisa ter? pensei em comprar mais uma prateleira pra cozinha mas no fim coube tudo nas prateleiras que eu já tinha. vou me livrar do carro assim que me mudar pra civilização - e com ele vão os gastos de ipva, gasolina e manutenção (e nem os pneus novos que tinha planejado comprar vou precisar mais). da minha lista original, sobrou delineador - que não precisei comprar ainda, porque tenho um mini estoque - e reposição de coisas estragadas: um dos meus pares de botas foi comido pela matilda, e o outro não é da maior qualidade e o solado tá tão desgastado que meu pé tá quase encostando no chão, então fui no enjoei e achei botas por um preço decente pra substituir as minhas. 

a lição que eu aprendi é essa: quando a gente realmente entende nossas necessidades - que estão atreladas à nossa rotina e a nossos gostos, não a um padrão de vida - é mais fácil identificar tudo aquilo que a gente tem e paga só pelos outros, pros outros verem que a gente tem. coisas que eu tinha e pagava pelos outros: roupas demais (lindas, porém em número exagerado), bolsas demais, sapatos desconfortáveis demais, maquiagens e esmaltes, cabelo liso, celular pós-pago, quinquilharias fofas, coisas de papelaria. coisas que eu tenho e pago porque minha rotina demanda mas que não quero ter: carro e gastos que vêm com ele. coisas que tenho e pago pra mim, apenas pra minha satisfação e/ou necessidade pessoal: netflix, spotify, créditos do celular de vez em quando, aluguel, luz, internet. não tenho dívidas no cartão de crédito pois não o uso - só compro coisas se tenho dinheiro pra pagá-las na hora, assim meu crédito fica pra alguma situação emergencial. 

e desse jeito, ganhando ligeiramente menos do que eu ganhava quando morava com meus pais (e olha que já era um salário ruim naquela época), não tenho problemas financeiros, não me preocupo com dinheiro, e não sinto que preciso de nada que eu já não tenha - a não ser, claro, comida quando acaba. e ainda me permito certos luxos: ainda saio pra comer às vezes, embora com bem menos frequência do que antes. de vez em quandíssimo saio à noite, pra ver algum show, pra ir tomar uma cerveja com os amigos. tenho dinheiro pra comprar ingressos de shows de bandas que vem pro brasil sem ficar tensa com o gasto - me lembro com tristeza de tantos shows que eu perdi porque gastei todo meu dinheiro em balada e roupa (mas também não quero ser injusta comigo mesma: as baladas, o dançar a noite bêbada com minhas amigas, o ouvir um dj tocando músicas que eu achava que eram só minhas pra um grupo de pessoas tão extasiadas quanto eu de estar ouvindo aquilo em público, de estar dividindo aquela canção e aquela felicidade com um monte de gente anônima.... se eu disser que isso não me salvou durante uns anos da minha vida, seria mentira - quantas vezes eu não cantei a plenos pulmões hang the dj, sabendo que era esse dj que tava dando um pouquinho de sentido pra minha vida).

hoje dou 13 horas de aula por semana (em oposição às quase 30 horas de aula que dava quando estava ganhando bem ano passado, e às 24 horas de aula que dava quando morava com meus pais e ganhava o que ganho hoje), tenho tempo pra escrever, pra passear com minha cachorra, pra me dar ao luxo de pensar em que roupa vou vestir e planejar uma semana toda de looks, pra fotografar minhas roupas e postá-las num blog, pra assistir minhas séries, pra ler meus livros, pra fazer comida, pra ficar com meu namo.... e ainda durmo cedo, acordo cedo e aproveito meus dias da maneira que eu achar mais adequada. se isso não é riqueza, gente, eu realmente não sei o que vocês querem. 

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