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  • Foto do escritormelody erlea

os filtros de instagram do passado!



a gente ama odiar filtro de instagram e foto retocada de celebridade, mas e se eu te disser que os ricos&famosos já tavam fazendo isso lá no século 16?


o retrato abaixo pivô de um mega bafão histórico: é anne de cleves, 4a esposa de henrique viii, que ficou famosa por fazê-lo berrar, ao conhecê-la: NÃOOOO! NÃO PLMDDS NÃO! aí ele bateu o pé, fez manha e disse que não ia casar porque o retrato que ele tinha recebido não condizia em nada com a feiúra da mulher na frente dele. ao lado, outro retrato de anne, supostamente mais realista.



contemporâneo de anne, charles v, imperador romano e arquiduque da áustria, era fruto de gerações e gerações de uma linhagem de casamentos incestuosos, em que quase todos os membros da família tinham um queixo exageradamente deslocado pra frente (e mais uma grande herança de doenças e condições genéticas que em nada ajudaram o rapaz no quesito beleza) - mas se tem algo que o monarca aprendeu com o tempo foi disfarçar essa característica marcante - com barba (igual os hómi de hoje em dia), contratando um pintor melhorzinho e escolhendo um look que faz a gente olhar pra berinjela dele ao invés de seu rosto ¯\_(ツ)_/¯



outro que adorava um retrato-fake-news era napoleão, que já chegou a colocar adolescente pra posar em seu lugar, e dizia que uma pintura não tinha nada que parecer com a realidade da pessoa sendo retratada, e sim refletir o caráter e grandiosidade da tal pessoa. aham, cláudia.



e, não muito tempo atrás, comentei de louis xiv, outro fissurado por aparência, que contratou um bailarino como dublê de pernas pra posar pro seu preferido e mais famoso retrato - e essa nem foi a maior de suas loucuras em relação a controlar sua imagem perante sua corte e seu público. ele começou a usar perucas após perder todo o cabelo numa doença súbita, e para que não passasse vergonha, instituiu a peruca como item mandatório do luquinho de qualquer um na corte. depois de perder metade dos dentes, obrigou todos em seu palácio a só comerem sopa, porque era tudo que ele conseguia engolir. e não quero nem pensar no fim de sua vida, com metade do corpo gangrenado, ainda fingindo costume com suas roupas e perucas e rituais da nobreza.


mas a rainha (literalmente) da imagem minuciosamente produzida, a inventora da identidade visual e do personal branding, foi elizabeth I, aquela mesma da era elizabetana, da época do shakespeare, que é conhecida por seus retratos de gola rendada e extravagante ao redor do pescoço, rosto pálido e cabelos vermelhos enfeitados com jóias. existe pouquíssima variação em como o rosto da rainha é pintado, e isso não é à toa: pra garantir sua imagem, inclusive ao envelhecer e perder sua vitalidade e aparência forte, elizabeth proibiu qualquer retrato que não mostrassem seu "verdadeiro charme", até que algum pintor inteligente pintasse um bom o suficiente que servisse de modelo pra todos os outros. a partir de um ponto de seu reinado, ela literalmente disponibilizou "layouts" de seu rosto, de retratos aprovados, que podiam ser usados para novos retratos.



elizabeth tinha motivos politicamente estratégicos pra essas decisões - ela era a primeira rainha mulher da inglaterra (fora um ou outro caso que quase deu certo mas não deu), havia tomado a corajosa decisão de não se casar e não produzir herdeiros, e precisava que o país inteiro embarcasse nessa mitologia com ela. foi assim que ela criou a imagem da rainha virgem, eternamente jovem, nunca submetida a um homem e casada com seu amor verdadeiro: seu reino e seus súditos. com o que os gurus do marketing gostam de chamar de ~story-telling visual~, elizabeth estabelecia tanto seu direito divino de governar a inglaterra, quanto seu poder independente de seu gênero.


embora sua antecessora, a meia-irmã mary, houvesse estabelecido o "ato 1554 sobre poder real", que declarava que a monarquia superava gênero, ela não ficou no poder tempo o suficiente pra garatir a normalização dessa ideia - a dinastia tudor, à qual tanto mary quanto elizabeth pertenciam, definia o gênero feminino como inferior, destinadao não a governar mas a ser governado. foi elizabeth que fincou essa ideia no imaginário do povo inglês, a partir da sua controlada imagem.


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