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  • Foto do escritormelody erlea

preto: a cor que não é tendência porque nunca deixou de ser tendência


foi yohji yamamoto que disse que a cor preta é modesta e arrogante ao mesmo tempo. que é fácil e preguiçosa, mas misteriosa. e eu entendo. há anos tinha uma certa preguiça do preto por achar uma cor fácil demais, todo mundo usa demais, uma cor cansada demais.


eu saía pelas ruas todo mundo de preto, na festinha alternativa só dava roupa preta, no restaurante a mesma coisa, no trabalho, no boteco........ ai que preguiça. especialmente vindo de alguém que foi uma adolescente darkzera que usava coturno até no alto verão: pra mim preto também me lembrava de leve dessa rebeldia forçada teen que é só visu mesmo, porque de rebeldia mesmo não tem nada. eu ficava pensando, mas gente, dá férias pro preto, tantas cores visíveis pelo olho humano e vocês ficam e apegando na ausência completa delas, eu hein.

fazia alguns anos que eu pouco a pouco eliminava o preto do meu guarda-roupa e tava apostando bem mais numa estética colorida maximalista meio kitsch, mas do meio do ano passado pra cá eu meio que passei a sentir uma vontade imensa de usar preto. não só um sapato ou um cinto, mas preto em peças chaves e quiçá da cabeça aos pés bem gótica suave mesmo. não consigo mais cobrir meu corpo daquelas estampas todas e de toda aquela alegria tropical carmem miranda que os mix de cores e formas trazem.


é inegável que o preto traz uma maturidade e uma seriedade bem misteriosas e sensuais, mesmo quando a roupa não é provocante e sexy. e eu tava sentindo falta justamente disso: de ser vista menos como uma versão crescida da punky a levada da breca e mais como uma mulher levemente amargurada embora ainda capaz de bom humor e um posicionamento desesperançoso-ainda-que-fazendo-piadas-nonsense-pois-provavelmente-bêbada-pra-esquecer-as-misérias-da-vida

enquanto pelo instagram eu vejo mais e mais mulheres se vestindo na vibe brechó, segunda mão, anos 80 e 90, mais eu sinto que as cores e estampas que eu tava usando estão intimamente ligadas às tendências proliferadas por redes sociais - enquanto o preto (assim como outros neutros) me parece flutuar acima das tendências, sempre presente e por isso mesmo nunca veemente reverenciado, e representativo de uma mulher constante, elegante e menos influenciável pelas efemeridades dos modismos de instagram.


e tem outra: em tempos de pantone decidindo cor do ano, cor do trimestre, cor do verão, etc, e de consultora de estilo vendendo análise de coloração pessoal, percebo que meu radar visual estava se afogando no ruído das cores todas nas mídias sociais de moda, e aí dentro do meu armário eu só sentia a mesma poluição: cores cores cores estampas estampas estampas como se todos os teletubbies tivessem sido colocados num liquidificador e escorridos pra dentro do meu quarto.

e foi assim que aos poucos deixei as estampas um pouco pra lá e apostei nuns itens pretos pra amadurecer meu visus e, como diria morrissey, deixar o preto da minha roupa refletir a escuridão toda de dentro de mim (aquelasssss kkk)


no combo de hoje: a minissaia preta de couro (legítimo de verdade verdadeira) que garimpei numa das edições do incrível bazar de trocas - ou seja, sem gastar um único dinheirinho. respeitar nossas mudanças internas e permitir que elas se reflitam no nosso estilo: sempre. gastar dinheiro à toa, criar demanda na indústria de roupa, comprar sem pensar direito: jamais. tô incorporando o preto ao meu armário de maneira sustentável e consciente, do jeitinho que eu gosto!


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