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  • Foto do escritormelody erlea

música que sabe quem é o inimigo: rock contra o fascismo



nós queremos música real, música da rua, música que destrói o medo que as pessoas tem umas das outras. música de crise, música de agora, múscia que sabe quem é o inimigo real


foi com esse slogan que o rock against racism (rock contra o racismo) abriu seu manifesto em 1976: um convite à juventude inglesa a se juntar a uma luta da arte pela liberdade e contra o racismo. encabeçando o movimento estavam diversos artistas dos movimentos punk e skinhead, com bandas que tocavam reggae, ska, punk rock, 2-tone e outros gêneros musicais de origem jovem e trabalhadora.

ao contrário do que muitos pensam, o movimento e a estética skinhead não são, a princípio, associadas a movimentos neonazi. elas surgem do numeroso número de imigrantes jamaicanos chegando em londres nos anos 70, fruto das dificuldades econômicas em seu país de origem. esses jovens vão morar nos mesmos bairros que as classes operárias inglesas, e o encontro dessas culturas - os mods ingleses com os rude boys jamaicanos - dá origem a uma estética nova que se popularizou rapidamente. coturnos, suspensórios, cabeças raspadas, camisas: esse é o uniforme do jovem trabalhador na londres dos anos 70.


só que a inglaterra não tava exatamente nadando em igualdade social na época, e a falta de empregos e instabilidade econômica começa a abrir espaço para uma mentalidade nacionalista e fascista, e a fronte nacional nazista ganha espaço politicamente e em número de votos das classes baixas, que tem medo de terem seus empregos roubados pelos imigrantes negros e do oriente médio. é aí que começam a haver as rixas entre supremacistas brancos e os jovens imigrantes e quem é que fosse que estivesse ao lado deles. esses jovens racistas, vestidos como a maior parte da juventude londrina da época, causam tanto alvoroço com sua violência e comportamento terrorista que ficam conhecidos nas mídias internacionais - ao redor do mundo, os noticiários estão associando o visual skinhead a grupos de inclinação neonazista, e é aí que a ideia de "visual neonazi" é criada.


a estética foi apropriada, mas os movimentos jovens não se valiam apenas de símbolos sartorialistas: um grupo de artistas, decidido a juntar os jovens que se opunham ao fascismo e se fazerem escutar, decidiu organizar um movimento que posicionava o rock, o punk, o reggae, o ska, o hip hop definitivamente contra o racismo, o fascismo e o nazismo.


em 1976 surgiu o rock agains racism - a princípio apenas um show como protesto às afirmações de eric clapton e david bowie de que o fascismo era o caminho ideal. clapton foi bem claramente racista nos seus dizeres, e bowie, embora não tenha ofendido ninguém per se, se posicionou a favor do fascismo como uma forma de nacionalismo (fico tentando me convencer que, né, era aquela época doida do bowie em berlin, ele almoçava jantava e lanchava cocaína e tava toda naquela vibe alemã-general-duque-nobreza, muito provavelmente era parte do personagem e ele tava tão chapado que não percebeu que tavez fosse insensível. ou talvez percebeu e fez mesmo assim, isso é quão genial ele podia ser? ou tavez essa seja só eu defendendo mais um branquelo, mas poxa, não consigo abrir mão do bowie, me tira todo mundo mas não me tira o bowie).


após o show inicial organizado pelo grupo, que tinha como atrações a cantora carol grimes e a banda de reggae matumbi, o movimento cresceu e ao redor da inglaterra pequenos shows foram acontecendo em prol do rock contra o racismo. tudo isso teve seu ápice em 1978, com o primeiro festival de música do grupo: o rock agains racism carnival.

no dia 30 de abril de 1978, em conjunto com a liga anti-nazista britância, o rock against racism organizou uma marcha por londres em protesto ao racismo que culminou num show aberto e gratuito no victoria park. no lineup, nada mais nada menos que the clash, steel pulse (que na época havia lançado seu single ku klux kan e se apresentava com dois de seus backing vocals usando as roupas dos membros do movimento terrorista), um dos membros do sham 69 e x ray spex. imagina esse dream team.


o festival fez tanto sucesso, que alguns meses depois - precisamente no dia de hoje, 15 de julho de 1978, há 42 anos - houve uma nova versão em manchester, uma cidade industrial com um grande número de jovens trabalhadores (e da onde saíram algumas das grandes bandas inglesas ao longo da história, tipo os smiths, oasis, stone roses, joy division, buzzcocks, bee gees, the verve, chemical brothers... tudo banda de joven fodido). dessa vez, tocaram buzzcocks, o steel pulse mais uma vez (eles tocaram no rock agains racism carnival de 1979 também) e duas outras bandas. no segundo semestre de 78 houve mais um festival em londres, e o evento continuou acontecendo até 1981.

o festival de 1978 é considerado até hoje o woodstock do punk - havia um sentimento de irmandade em cima do palco e também no backstage, e as bandas compartilhavam seus equipamentos e até pessoas da equipe. foi nessa época que o the clash escreveu a canção white riot, que é uma convocação a punks brancos ao redor do país a se posicionarem contra a polícia e contra a extrema direita.

foi também por volta dessa época que o clash começou a adionar cada vez mais referências jamaicanas do reggae e do ska a sua música, criando o tipo de som pelo qual ficariam conhecidos - e foi o show no rock against racism que os transformou nos rockstars que são hoje.

de lá pra cá o movimento se dissolveu - os festivais pararam de ser produzidos em 81 e, embora a luta antirracista não tenha acabado, as maneiras que o punk encontra para se posicionar mudaram. em 2002 a organização reapareceu, sob o nome love music, hate racism (ame música, odeie o racismo), que era um dos slogans do RAR lá nos anos 70.


o novo grupo de músicos contra o racismo ainda não organizou nenhum festival, mas nos restam as lembranças - em fotos e até num zine, o temporary hoarding, que foi publicado durantre os 5 anos do festival e do qual ainda restam algumas cópias pelo mundo - dessa época em que a música se posicionou contra o racismo.





para saber mais


artigos online:


livros:

Rock Against Racism, Syd Shelton


vídeos:

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